Humanização e dignidade nos cuidados paliativos: além da cura

Como o cuidado integral transforma a experiência de pacientes e famílias diante de doenças graves

Falar sobre cuidados paliativos ainda provoca desconforto em muitos ambientes. Para alguns, o termo se associa à morte, quando na realidade representa muito mais: um cuidado profundo, humano e essencial para quem vive com sofrimento. Não se trata apenas de tratar uma doença, mas de oferecer dignidade, acolhimento e qualidade de vida até o último momento. O objetivo não é antecipar o fim, mas oferecer alívio a pessoas com doenças graves, progressivas e sem previsão de melhora. Essa abordagem busca respeitar a pessoa em sua totalidade, considerando corpo, mente, emoções e valores.

Humanizar os cuidados paliativos é reconhecer que o paciente não é apenas um corpo doente, mas um sujeito com história, vínculos e desejos. Significa ouvir, compreender e respeitar suas necessidades, adotando um olhar atento e acolhedor. A equipe multiprofissional atua além do controle de sintomas físicos, oferecendo suporte psicológico, espiritual e social, garantindo um cuidado integral que envolve o paciente e sua rede de apoio.

Os cuidados paliativos são indicados sempre que uma doença coloca em risco a continuidade da vida ou provoca sofrimento intenso. Entre as condições mais comuns estão câncer avançado, doenças cardíacas graves, enfermidades respiratórias crônicas, distúrbios neurológicos degenerativos como Alzheimer e Parkinson, falência renal ou hepática em estágio avançado, além de doenças raras e progressivas na infância. Nessas situações, o cuidado se concentra no controle de sintomas como dor, fadiga, dificuldade para respirar e sofrimento emocional, assegurando conforto físico, psicológico e espiritual.

Esse cuidado ultrapassa os limites do paciente, envolvendo também a família, que vive junto o desafio do adoecimento. Ela carrega medos, incertezas e, muitas vezes, o peso de sentimentos como culpa, mágoas ou dores silenciosas relacionadas ao tempo que acreditam ter perdido. A humanização expande o olhar para além do tratamento clínico, transformando a assistência em um exercício de presença, escuta e empatia. Cuidar, nesse sentido, é cuidar não só do corpo, mas também da essência que permanece nas relações, nos laços afetivos e nas memórias construídas.

Nos hospitais e serviços de saúde, ainda é comum que o cuidado seja reduzido a protocolos e procedimentos técnicos. Mas os cuidados paliativos nos lembram que cuidar é mais do que intervir. É estar junto, é respeitar o tempo e a dor do outro. Quando o foco deixa de ser a doença e passa a ser a pessoa, o tratamento se torna mais ético, sensível e, acima de tudo, humano.

Falar em humanização dos cuidados paliativos é reafirmar o valor da vida até o último instante. É garantir que ninguém sofra sozinho ou seja esquecido. É compreender que a morte faz parte da existência, mas que a forma como se vive até ela pode ser transformada pelo cuidado. Cuidar até o fim é um gesto de respeito, e a atenção plena é o que mais humaniza o viver e o morrer.

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Por Vaniele Silva Pinto Pailczuk

enfermeira, especialista em UTI/ Urgência e Emergência, professora e tutora de cursos de pós-graduação na área da saúde no Centro Internacional Uninter

Artigo de opinião

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