Crianças e Corrida: Por Que Maratonas Não São Para Elas

Especialista alerta para os riscos físicos e pedagógicos de submeter crianças a provas longas e treinos estruturados precocemente

A participação de uma criança de 10 anos na Maratona de Aracaju acendeu um alerta importante sobre a forma adequada de introduzir a corrida na infância. Para o fisiologista do esporte Diego Leite de Barros, esse episódio exemplifica um desvirtuamento do verdadeiro papel educativo e saudável que o esporte deve ter para os pequenos.

Embora não exista um consenso científico que defina uma idade exata para iniciar treinos estruturados de corrida, o estímulo orientado geralmente só faz sentido a partir do final da segunda infância, entre 8 e 10 anos, e se intensifica na adolescência, quando o corpo já está mais preparado para suportar maiores volumes de treino.

A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT) estabelece que, em corridas de rua, a idade mínima para participação em provas de até 5 quilômetros é 14 anos, enquanto as maratonas, com seus 42,195 quilômetros, são permitidas apenas para atletas acima de 20 anos.

Além dos riscos fisiológicos — como desgaste articular, lesões e sobrecarga do sistema cardiorrespiratório ainda imaturo —, há um aspecto conceitual fundamental: a forma como o esporte é apresentado às crianças. Correr é uma atividade natural desde a primeira infância, mas transformar essa atividade em um treinamento sistemático e intenso é algo completamente diferente.

Na infância, a corrida deve estar inserida nas brincadeiras e no desenvolvimento motor lúdico, e não em treinos com volume e intensidade semelhantes aos de adultos. Expor uma criança a uma maratona descaracteriza a proposta pedagógica do esporte, que deveria ensinar limites, regras e, acima de tudo, proporcionar prazer pelo movimento.

O esporte na infância deve ser um espaço para o desenvolvimento saudável, respeitando o ritmo e as necessidades próprias dessa fase da vida, e não uma competição prematura que pode trazer mais prejuízos do que benefícios.

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Por Diego Leite de Barros

educador físico, especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenador de equipe multidisciplinar responsável pelo planejamento de treinamento de mais de 500 atletas amadores

Artigo de opinião

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