O paradoxo da Saúde Bucal no Brasil: muitos dentistas, pouco acesso para a população
Apesar do elevado número de profissionais e universidades de excelência, o acesso aos cuidados odontológicos ainda é restrito para grande parte dos brasileiros, evidenciando desigualdades históricas no sistema de saúde.
O Brasil é reconhecido mundialmente como o país com o maior número de dentistas em atividade, além de contar com três das melhores universidades de Odontologia. Segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO), já ultrapassamos a marca de 400 mil profissionais registrados. Ainda assim, quando analisamos os indicadores de saúde bucal da população, o cenário é alarmante.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, do IBGE, revela que mais de 34 milhões de brasileiros adultos perderam 13 dentes ou mais, e cerca de 14 milhões perderam todos os dentes. Esses dados reforçam a urgência do tema: a falta de higiene bucal adequada pode causar doenças que comprometem não apenas a boca, mas todo o organismo, já que a cavidade oral é porta de entrada para bactérias e vírus.
Como explicar que um país com tantos profissionais disponíveis ainda conviva com tamanha exclusão no acesso a cuidados odontológicos? A resposta está nas desigualdades históricas que marcam o sistema de saúde brasileiro.
De um lado, temos uma formação de excelência, clínicas privadas altamente capacitadas e tecnologias de ponta. De outro, grande parte da população depende exclusivamente do SUS (Sistema Único de Saúde), que enfrenta limitações estruturais e orçamentárias para atender a uma demanda gigantesca. O resultado é um acesso restrito e tardio, geralmente voltado a procedimentos emergenciais, e não à prevenção.
É nesse cenário que a odontologia suplementar surge como um caminho viável para transformar a realidade da saúde bucal no Brasil. O crescimento dos planos odontológicos — que hoje já ultrapassam 34 milhões de beneficiários, segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) — amplia o acesso, democratiza serviços de qualidade e contribui diretamente para reduzir desigualdades.
Ao contrário do que muitos pensam, o custo de um plano odontológico é acessível, em média R$ 20 por mês, e tem se mostrado um investimento cada vez mais valorizado por famílias e empresas. Além disso, operadoras do setor vêm apostando em modelos baseados em prevenção, tecnologia e educação em saúde, o que gera impacto positivo tanto na vida dos pacientes quanto na sustentabilidade do sistema como um todo.
O desafio agora é avançar nessa agenda, consolidando a odontologia suplementar como um pilar essencial do ecossistema de saúde. Isso exige diálogo permanente com reguladores, incentivo à inovação e políticas públicas que reconheçam o valor social dos planos odontológicos.
O Brasil precisa superar o paradoxo da saúde bucal. Temos profissionais capacitados, tecnologia disponível e uma rede suplementar em franca expansão. Falta, sobretudo, garantir que esse potencial se traduza em mais acesso, mais prevenção e mais qualidade de vida para milhões de brasileiros.
A boa notícia é que já estamos no caminho certo.
Por Dr. Roberto Seme Cury
Presidente da SINOG – Associação Brasileira de Planos Odontológicos
Artigo de opinião



