Luto pet no Dia de Finados: reconhecimento e rituais para uma despedida saudável

Como a valorização do vínculo com animais de estimação transforma o luto e cria novos espaços de memória e afeto

O Dia de Finados, tradicionalmente voltado à lembrança de entes queridos, começa a despertar novas reflexões entre famílias que convivem com animais de estimação. A ampliação do vínculo entre humanos e pets, agora reconhecidos como parte legítima da estrutura familiar, tem motivado um olhar mais sensível sobre o luto animal e o papel dos rituais de despedida nesse processo.

Ainda não existe no Brasil um movimento estruturado de homenagens voltadas aos animais de estimação no feriado de Finados, mas a discussão sobre o tema é cada vez mais necessária. Pensar em Finados para além do humano é uma forma de validar o vínculo e dar às famílias um espaço coletivo de reconhecimento. É um gesto de amor e também de reparação, porque o luto por pets ainda é pouco legitimado na sociedade.

O fortalecimento desse vínculo acompanha transformações sociais como famílias menores, rotinas mais solitárias e a busca por afeto genuíno. Hoje falamos em famílias multiespécie. Os animais participam das rotinas, influenciam decisões e moldam hábitos. Se reconhecemos esse papel em vida, faz sentido criar espaços simbólicos para reconhecer também a partida deles.

O mercado pet brasileiro reflete essa consolidação dos animais como parte central da vida familiar, com faturamento crescente e mais de 60% dos tutores considerando seus pets como membros da família. Essa percepção se traduz na forma como se vive o luto e as despedidas.

Em algumas cidades do país, já existem cemitérios que permitem o sepultamento conjunto com os tutores, além de locais e crematórios exclusivos para animais. O crescimento da procura por serviços funerários para pets reforça esse movimento: em regiões como o Ceará, a demanda por cremações chegou a triplicar nos últimos anos.

Essa prática tem grande significado simbólico. Quando uma família escolhe sepultar o pet junto a ela, está dizendo: “nós pertencemos ao mesmo lugar, em vida e também na memória”. Isso dá continuidade ao vínculo e ajuda no processo de elaboração da perda.

O luto por animais de estimação ainda é marcado pela falta de reconhecimento social, o que contribui para o chamado “luto não autorizado”, quando a dor é minimizada por quem não compreende a profundidade do vínculo. Frases como “era só um cachorro” ou “compra outro” invalidam a dor e empurram o luto para o silêncio. Rituais, velórios e cerimônias ajudam justamente a concretizar a despedida, permitindo que o amor se transforme em memória.

O suporte emocional adequado é essencial nesse processo. O acompanhamento psicológico ajuda a legitimar o sofrimento e a ressignificar a perda de forma saudável. Quando a dor é acolhida, o vínculo permanece em forma de lembrança e gratidão. O luto deixa de ser apenas ausência e passa a ser uma continuidade afetiva.

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Por Juliana Sato

Psicóloga graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, pós-graduação em Distúrbios Alimentares pela Unifesp, certificada pela Association for Pet Loss and Bereavement, consultora e atendente em saúde mental no segmento pet vet, diretora da Ekôa Vet, organizadora do livro “Luto Pet no Contexto da Medicina Veterinária”

Artigo de opinião

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