Etarismo reverso: o preconceito que freia a inovação nas empresas

Como a desvalorização dos profissionais jovens limita talentos, engajamento e competitividade organizacional

O etarismo — preconceito baseado na idade — ainda é uma das formas mais comuns de discriminação no mercado de trabalho. A exclusão de profissionais mais velhos, muitas vezes afastados por supostamente estarem “fora do tempo”, é um problema conhecido e amplamente documentado. Mas há uma outra face desse mesmo preconceito que cresce silenciosamente nas empresas: o etarismo reverso, que desqualifica profissionais jovens por sua pouca idade.

Ambas as formas são igualmente nocivas. Quando um profissional é subestimado por ser “velho demais” ou “novo demais”, o resultado é o mesmo: perda de potencial, de engajamento e de inovação.

No caso dos mais jovens, o preconceito costuma aparecer de maneira sutil — e quase sempre disfarçado de prudência. É quando uma ideia é ignorada com a justificativa de que o profissional “ainda não entende as complexidades do negócio”, ou quando uma promoção é adiada porque “falta amadurecer”. O problema é que, ao silenciar essas vozes, as empresas perdem justamente o que mais precisam: novas perspectivas, domínio tecnológico e disposição para questionar o que está ultrapassado.

Um estudo publicado no periódico Developmental Psychology reforça o alerta: a discriminação contra profissionais jovens reduz a motivação, inibe o aprendizado e limita o desenvolvimento de competências essenciais. Esses profissionais se sentem desvalorizados e, com frequência, buscam ambientes mais abertos à troca geracional. O resultado é aumento de rotatividade e perda de talentos promissores.

O etarismo reverso pode se manifestar em práticas corriqueiras. O “Gen-Z” estereotipado, por exemplo, é descrito como ansioso ou pouco comprometido, o que leva à microgestão e à falta de confiança. Há também a “barreira da liderança”, quando profissionais jovens, mesmo com resultados expressivos, enfrentam resistência para ocupar cargos de gestão. E ainda existe o cenário clássico do “café e cópias”: tarefas operacionais são delegadas aos mais jovens, enquanto suas opiniões estratégicas são ignoradas. Isso corrói o engajamento e impede o aprendizado real.

O preconceito etário, em qualquer direção, compromete a cultura organizacional e o desempenho coletivo. As empresas que ainda associam idade à capacidade de liderar ou inovar tendem a ficar para trás. A experiência é valiosa, mas deve andar junto da ousadia e da atualização.

Entre as medidas para enfrentar o problema, é fundamental fortalecer uma cultura de integração entre gerações e revisar critérios de avaliação baseados apenas em tempo de casa ou faixa etária. É preciso avaliar por competência, resultado e potencial. E criar programas de mentoria reversa, nos quais jovens e experientes aprendem uns com os outros, trocando repertórios técnicos e vivências profissionais. Essa troca é o que fortalece times diversos e sustentáveis.

Combater o etarismo é também uma questão de estratégia. Empresas que valorizam apenas o que é tradicional perdem o novo; e as que desprezam a experiência repetem erros já conhecidos. O equilíbrio entre juventude e maturidade é o que garante inovação real — e é isso que diferencia as organizações que aprendem das que apenas repetem. Ignorar essa integração é abrir mão de competitividade num mercado que muda rápido demais.

V

Por Virgilio Marques dos Santos

sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria, gestor de carreiras, PhD, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp, Master Black Belt pela Unicamp, autor do livro "Partiu Carreira", TEDx Speaker, ex-professor de cursos de pós-graduação e especialização na Unicamp e outras instituições, ex-gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas, idealizador do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica

Artigo de opinião

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