A militarização das cidades brasileiras
As ruas se transformam em trincheiras: como o aumento da presença militarizada redefiniu o controle urbano e os desafios das periferias
Na última década, cidades brasileiras vêm apostando em modelos de segurança urbana intensamente militarizados — com a polícia fortemente armada, operações policiais em larga escala e ocupações de territórios periféricos. Esse fenômeno vai muito além de repressão ao crime: molda o ambiente urbano, altera rotinas comunitárias e gera um paradoxo entre ordem e liberdade.
️ O que significa militarizar a cidade?
“Militarização” aqui refere-se ao uso de lógica, recursos e presença típicas das Forças Armadas ou unidades de segurança fortemente armadas em áreas urbanas — operando com blindados, helicópteros, drones e patrulhamento intensivo. Essa lógica foi observada especialmente em favelas e periferias.
No caso do Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio, por exemplo, a ocupação de algumas favelas assumiu características de “militarização urbana”.
Por que esse modelo ganhou força?
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A escalada da violência urbana, com facções armadas controlando territórios, levou muitos governos estaduais a adotar estratégias de ocupação rápida e visível.
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O discurso de “guerra ao crime” impulsionou a compra de equipamentos e o emprego de táticas militares em áreas urbanas.
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Projetos de visibilidade política — “ocupação pacificadora” ou “controle social” — deram prioridade à presença do Estado como símbolo de poder.
⚠️ Quais os efeitos para a população?
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A rotina nas periferias passa a ser dominada por operações, barreiras e patrulhas, o que gera sentimento de insegurança constante.
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Moradores relatam que a militarização pode livrar territórios de facções, mas muitas vezes subsume-no à lógica policial, com pouca participação comunitária.
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Alguns autores alertam para o risco de “milicialização”, isto é: a transformação de zonas antes controladas por tráfico para serem dominadas por grupos paramilitares ou milícias que, às vezes, contam com cumplicidade ou omissão estatal.
Reflexão final
A militarização das cidades brasileiras coloca no centro um desafio crucial: como garantir segurança pública eficaz sem reduzir o cidadão a alvo? Visibilidade e presença estatal são importantes, porém, se a lógica permanecer puramente bélica, o Estado arrisca repetir erros — territorializar o conflito em vez de civilizar o convívio urbano.
Para alternativas mais sustentáveis, é fundamental repensar a presença do Estado — não só como força, mas como agente de serviços, direitos e reconstrução comunitária.



