Saúde Bucal no Brasil: Um Direito Ainda Distante para Muitos
A desigualdade no acesso à odontologia revela a urgência de integrar a saúde bucal ao cuidado integral e ampliar a cobertura pública.
Em 25 de outubro, o Brasil comemora o Dia do Cirurgião-Dentista, uma data para valorizar quem promove saúde, autoestima e qualidade de vida todos os dias. No mesmo dia, também celebramos o Dia Nacional da Saúde Bucal, fortalecendo a mensagem de que a boca saudável vai muito além da estética: é parte essencial do bem-estar e da saúde do corpo inteiro.
No Brasil, no entanto, esse cuidado ainda é um privilégio. Apenas 23% das consultas odontológicas são realizadas pelo SUS, segundo pesquisa da ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos) com o apoio do CFO (Conselho Federal de Odontologia).
O levantamento mostra um cenário desigual: enquanto 80% dos brasileiros com renda superior a 10 salários-mínimos consultaram um cirurgião-dentista no último ano, apenas 59% daqueles que recebem até um salário-mínimo tiveram acesso. Entre pessoas com ensino superior, 75% buscaram atendimento; entre as com escolaridade básica, esse índice cai para 54%.
Essa desigualdade persiste mesmo após avanços como o Brasil Sorridente, programa do governo federal criado em 2004 para ampliar a oferta de serviços odontológicos no SUS. A infraestrutura é insuficiente em muitas regiões, especialmente para casos complexos, e a capacidade de atendimento permanece limitada.
Esse cenário expõe uma contradição. O Brasil é referência mundial em Odontologia, com universidades de excelência, profissionais reconhecidos e uma indústria de dispositivos médicos inovadora. No entanto, 32% da população não consultou um cirurgião-dentista no último ano. É como ter uma farmácia completa em uma cidade onde poucos podem entrar.
As consequências vão além da boca. Problemas como cárie, gengivites e infecções não tratadas afetam a alimentação, a fala, a autoestima e podem agravar doenças crônicas, comprometendo o bem-estar geral. Não se trata de vaidade: é saúde integral.
Por isso, a odontologia precisa ser efetivamente integrada ao cuidado multidisciplinar. Esse movimento já se fortalece em especialidades como Odontopediatria, Odontologia Hospitalar, Odontogeriatria e Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, que atuam lado a lado com médicos, nutricionistas, fonoaudiólogos e outros profissionais. Ainda é preciso, porém, ampliar a conscientização de que saúde bucal é inseparável da saúde geral e da qualidade de vida com a inserção do cirurgião-dentista em todas as equipes de saúde.
Neste Dia do Cirurgião-Dentista e Dia Nacional da Saúde Bucal, mais do que celebrar, é hora de reafirmar um compromisso: transformar o acesso à odontologia de qualidade em um direito efetivo, e não em um privilégio. Investir em prevenção, ampliar a cobertura do Brasil Sorridente e integrar a odontologia ao cuidado integral são passos urgentes para que todos possam, de fato, sorrir com saúde.
Por Dra. Sofia Takeda Uemura
diretora da Faculdade de Odontologia da APCD (FAOA), especialista em Odontopediatria e Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais
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