A importância urgente da mamografia de rastreamento para a saúde das mulheres brasileiras
Como a detecção precoce do câncer de mama pode salvar vidas e a necessidade de políticas públicas eficazes
Existem dois tipos de mamografia: a diagnóstica, solicitada quando a paciente apresenta alguma alteração na mama, como um nódulo palpável, e que pode ser indicada em qualquer idade para identificar achados específicos; e a mamografia de rastreamento, que tem um objetivo mais amplo, sendo um acompanhamento regular em mulheres saudáveis para reduzir a mortalidade por câncer de mama.
Dados da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI) entre 2019 e 2025 apontam que foram realizadas 1,06 milhões de mamografias, das quais 28 mil foram diagnósticas e 1,03 milhões de rastreamento. Essa diferença reflete o impacto da mamografia de rastreamento, que detecta lesões mesmo quando a paciente não apresenta sintomas, permitindo o tratamento precoce e aumentando as chances de cura.
Durante muito tempo, acreditava-se que o fator genético era responsável pela maioria dos casos de câncer de mama. Hoje sabemos que ele responde por menos de 10% dos casos. Fatores ambientais e comportamentais como alcoolismo, tabagismo, sedentarismo, obesidade, fatores emocionais e uso inadequado de reposição hormonal também elevam o risco, o que significa que mulheres mais jovens podem ser afetadas.
Entre 2013 e 2025, o Painel Oncologia do Ministério da Saúde indicou que 190 mil mulheres entre 30 e 49 anos foram diagnosticadas com câncer de mama no Brasil. Muitas vezes, o diagnóstico é tardio devido à falta de informação, por isso toda mulher que percebe alterações na mama deve realizar exames. Tumores detectados tardiamente em mulheres jovens tendem a ser mais agressivos, tornando essencial a atenção primária aos sinais do corpo.
A Lei Federal nº 11.664/2008 representa uma grande conquista ao garantir prevenção, detecção, tratamento e acompanhamento dos cânceres de colo uterino, mama e colorretal no Sistema Único de Saúde para mulheres acima de 40 anos. Outro avanço importante é a Lei nº 14.335 de 2022, que assegura o rastreamento mamográfico anual para todas as mulheres a partir dos 40 anos, conforme recomendam a Sociedade Brasileira de Mastologia, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia e o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem.
É fundamental que o rastreamento para mulheres assintomáticas e sem histórico familiar comece aos 40 anos, sendo realizado anualmente, o que aumenta as chances de cura e possibilita tratamentos menos invasivos. Para mulheres com histórico familiar materno, o rastreamento deve iniciar 10 anos antes da idade em que a familiar (mãe ou irmã) foi diagnosticada. Para mulheres abaixo de 40 anos, o ultrassom das mamas é um excelente método para rastreamento e diagnóstico.
Para avançar, é necessário reforçar a conscientização sobre a doença e priorizar o cuidado primário com a saúde da mulher, por meio de ações diárias que ajudam a identificar sinais de câncer de mama. Muitas pacientes têm dúvidas sobre quando começar a fazer o exame, sua frequência e riscos envolvidos, o que torna essencial o acompanhamento médico regular para recomendações adequadas em cada fase da vida.
O câncer de mama é uma doença de alta incidência na população feminina, com cerca de 74 mil novos casos por ano no Brasil. Por isso, a mamografia é o principal método para detecção precoce, capaz de identificar tumores em estágios iniciais, antes mesmo da manifestação de sintomas, aumentando significativamente as chances de cura. É imperativo que políticas públicas de saúde considerem a realidade epidemiológica brasileira, pois a detecção precoce é uma das ferramentas mais eficazes na luta contra o câncer de mama, e sua ampliação pode salvar vidas.
Neste Outubro Rosa, é fundamental reforçar a importância de políticas de saúde baseadas em evidências atualizadas e na realidade da população brasileira. O cuidado com as mamas começa com o autocuidado diário, hábitos saudáveis, visitas regulares ao médico e acesso a informações de qualidade. Assim, damos um passo decisivo para proteger a saúde das mulheres brasileiras.
Por Dra. Vivian Milani
médica radiologista com especialização em mamas pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) e médica do Conselho Curador da Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI)
Artigo de opinião



