Telemedicina revoluciona o acompanhamento nutricional de gestantes no Brasil

Como o atendimento remoto está ampliando o acesso e melhorando a saúde materno-infantil em regiões remotas do país

A gestação é um dos períodos mais delicados e transformadores na vida de uma mulher, marcada por profundas mudanças fisiológicas e emocionais. Garantir a saúde da mãe e do bebê exige muito mais do que consultas eventuais, demandando acompanhamento nutricional contínuo, especializado e baseado em evidências científicas. No Brasil, o acesso a esse tipo de atendimento ainda enfrenta obstáculos significativos, como a escassez de profissionais em regiões afastadas e dificuldades de mobilidade, especialmente para gestantes em situações de risco. Nesse contexto, a telemedicina surge como solução estratégica, aproximando a ciência da realidade de milhares de mulheres.

Segundo dados do Ministério da Saúde, a mortalidade materna no Brasil atingiu 54,2 mortes a cada 100 mil nascidos vivos em 2022, índice acima da meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece menos de 30 por 100 mil. Parte dessas mortes decorre de complicações evitáveis com prevenção e cuidados adequados, incluindo atenção nutricional. Uma alimentação equilibrada durante a gestação reduz o risco de diabetes gestacional, hipertensão, baixo peso ao nascer e parto prematuro. No entanto, muitas mulheres ainda não têm acesso a orientações precisas sobre hábitos alimentares e suplementação, como ácido fólico e ferro, nutrientes essenciais para o desenvolvimento saudável do bebê e a saúde materna.

A telemedicina se destaca como ferramenta essencial para superar essas barreiras. Consultas virtuais permitem que gestantes de regiões remotas, como comunidades rurais ou cidades do interior, sejam atendidas por nutricionistas especializados sem longos deslocamentos. Essa acessibilidade amplia a equidade no cuidado e oferece mais segurança para mulheres em gestações de alto risco ou no final do terceiro trimestre, quando viagens frequentes podem ser cansativas e perigosas.

Além de aproximar a paciente do especialista, o atendimento remoto favorece a personalização do plano alimentar. Por meio de teleconsultas, é possível avaliar detalhadamente a rotina, preferências e limitações da paciente. O plano alimentar resultante considera fatores culturais, disponibilidade regional de alimentos e aversões alimentares comuns durante a gravidez. Esse cuidado individualizado aumenta a adesão ao tratamento e os resultados positivos, tornando a alimentação parte da realidade da paciente e não apenas uma lista de recomendações.

Outro benefício é a continuidade do acompanhamento. A gestação é dinâmica, com necessidades nutricionais que mudam a cada trimestre. Plataformas digitais permitem agendamento de consultas de seguimento, envio de lembretes automáticos e ajustes no plano alimentar conforme novos exames ou alterações no estado clínico. Um exemplo prático é o Piauí Saúde Digital, projeto pioneiro que envia orientações e notificações pelo celular, possibilitando que gestantes agendem consultas online, recebam planos alimentares adequados a cada fase da gravidez e tenham suporte emocional. Essa iniciativa mostra como a tecnologia pode ampliar o alcance e a eficácia das políticas públicas de saúde.

Embora alguns críticos questionem se a telemedicina oferece o mesmo nível de qualidade do atendimento presencial, os avanços tecnológicos permitem que grande parte do acompanhamento nutricional seja feito de forma segura e eficaz à distância. Com a integração de exames laboratoriais digitais e dispositivos de monitoramento, é possível manter rigor técnico sem abrir mão da comodidade.

Em resumo, fortalecer o cuidado nutricional durante a gestação é fundamental para reduzir a mortalidade materno-infantil no país. A telemedicina, ao oferecer acesso rápido e personalizado a profissionais qualificados, representa um avanço decisivo, conectando gestantes a especialistas e criando um ecossistema de saúde mais inclusivo e eficiente. Garantir orientação adequada e acompanhamento contínuo para cada gestante é mais que inovação tecnológica: é um investimento no futuro. Ao unir ciência, tecnologia e cuidado humano, a telemedicina tem potencial para transformar a forma como o Brasil cuida de suas mães e das próximas gerações.

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Por Dra. Esmaela Corrêa

doutora e mestre em Medicina pela UFF, com especialização em Nutrição de Precisão, Nutrição Funcional e Enfermagem Obstétrica; atua na saúde da mulher, da criança, gestação e puerpério, além do manejo de estresse e cognição; coordena projetos de telemedicina e telediagnóstico voltados ao cuidado materno-infantil

Artigo de opinião

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