O verdadeiro espírito do Natal: além do consumo, a reconexão humana

Em meio à avalanche de compras, é urgente resgatar a generosidade, a presença e a espiritualidade que dão sentido às celebrações de fim de ano

A temporada entre a Black Friday e o Natal tem se transformado em uma maratona de consumo disfarçada de celebração. Em vez de reencontro, gratidão e generosidade, o que se observa é uma avalanche de descontos, metas comerciais e urgência artificial. O problema não está no presente em si, mas na lógica que o sustenta: trocar conexão humana por acúmulo material. Ao tornar o ato de dar refém do ato de comprar, perdemos o sentido mais profundo do fim de ano.

Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio), o Natal de 2023 movimentou cerca de R$ 68 bilhões no varejo brasileiro, o maior volume registrado desde 2013. Já na Black Friday do mesmo ano, o e-commerce brasileiro faturou R$ 6,4 bilhões em apenas dois dias, de acordo com levantamento da NielsenIQ|Ebit. Mas esse pico de consumo contrasta com indicadores emocionais: um estudo da International Stress Management Association no Brasil mostra que o mês de dezembro concentra 35% dos casos de estresse crônico relacionados ao trabalho e à vida pessoal. A promessa de felicidade via consumo não só é ilusória, como vem acompanhada de ansiedade, fadiga e sensação de vazio.

Isso não significa demonizar o comércio ou negar a importância simbólica de um presente. Mas é preciso admitir que o excesso nos afastou da essência. Celebrar não exige sacolas cheias, mas vínculos fortes. Dar não precisa significar gastar, mas sim oferecer tempo, escuta e presença. O Instituto Akatu aponta que 78% dos brasileiros valorizam empresas com práticas sustentáveis e de consumo consciente, mas apenas 38% conseguem adotar esses comportamentos no cotidiano. O dado revela uma contradição: sabemos o que deveria ser feito, mas ainda somos levados por uma lógica de excesso que exige reflexão.

Muitos argumentam que o consumo movimenta a economia, mas isso não justifica o esvaziamento dos valores que deveriam marcar esse período. É possível gerar impacto positivo sem ceder ao apelo do consumismo. Durante as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, plataformas digitais mobilizaram milhões de pessoas que escolheram doar em vez de comprar. De acordo com a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), mais de R$ 180 milhões foram arrecadados em poucos dias, com o engajamento de empresas, influenciadores e cidadãos comuns. Isso mostra que a generosidade, quando facilitada e incentivada, ainda mobiliza mais do que qualquer oferta relâmpago.

Além disso, os dados indicam uma mudança sutil, mas relevante, no comportamento digital durante o fim de ano. Segundo o relatório Digital 2024, da Meltwater e We Are Social, cresce o uso de plataformas online não apenas para consumo, mas também para conexões espirituais, acesso a conteúdos edificantes e partilha de reflexões em família. A tecnologia, quando usada com propósito, pode se tornar aliada da comunhão e não apenas do consumo.

O fim de ano é, ou deveria ser, um tempo de virada simbólica e reconexão com o que realmente importa. O desafio é recuperar o gesto de dar como um ato de generosidade e consciência, não de compulsão. Presentear com tempo, com perdão, com presença. Celebrar menos com sacolas, mais com vínculos humanos.

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Por Marcel Rocco

CEO e fundador do app da Bíblia JFA, especialista em tecnologia, focado na disseminação da palavra de Deus pelo digital

Artigo de opinião

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