Estratégias essenciais para preservar o caixa diante da crise de crédito empresarial
Como reorganizar passivos, revisar contratos e cortar custos para garantir liquidez e credibilidade no mercado atual
O número de empresas com dificuldade para renovar contratos e manter o capital de giro cresce em todo o país. De acordo com levantamento da Serasa Experian, o Brasil soma 7,3 milhões de companhias inadimplentes, com passivos que ultrapassam R$ 169,8 bilhões. O aperto nas condições de crédito e o aumento dos juros dificultam a renegociação com bancos e fornecedores, obrigando gestores a repensar a estrutura financeira dos negócios.
Para o advogado, contador Marcos Pelozato e especialista em reestruturação empresarial, o cenário atual exige que as empresas adotem uma postura técnica e preventiva na gestão do endividamento. “Negociar dívida não é apenas pedir mais prazo, é apresentar um plano financeiro consistente. Quando o empresário se antecipa e demonstra capacidade de gestão e projeção de fluxo de caixa, ele muda o tom da negociação com credores”.
Segundo o especialista, os setores mais afetados são varejo, indústria de transformação e construção civil, atividades que dependem fortemente de capital de giro. “Nessas áreas, qualquer oscilação no crédito impacta diretamente a operação. O aumento dos custos financeiros e a retração das vendas criam um efeito dominó que pode levar empresas saudáveis à inadimplência em poucos meses”, explica Pelozato, que atua há 14 anos em processos de recuperação judicial e reorganização de negócios.
Dados da Serasa Experian apontam que o país registrou 2,2 mil pedidos de recuperação judicial em 2024, o maior número desde o início da série histórica, em 2005. O aumento é reflexo direto do encarecimento do crédito e da falta de planejamento financeiro entre pequenas e médias companhias.
Diante das barreiras crescentes, Pelozato destaca três medidas práticas que devem orientar a gestão neste momento: reorganização de passivos, revisão de contratos e redução estratégica de custos.
“O primeiro passo é reestruturar o endividamento, priorizando credores estratégicos e renegociando prazos sem comprometer o fluxo de caixa. Em seguida, é essencial revisar contratos, pois muitos contêm cláusulas de reajuste ou penalidades que podem ser ajustadas. Por fim, a redução de custos precisa ser inteligente, cortar desperdícios e renegociar fornecedores sem prejudicar a capacidade produtiva”, orienta.
Ele ressalta que a contabilidade deve ser tratada como ferramenta estratégica. “Empresas que mantêm relatórios financeiros atualizados e controles de desempenho claros ganham poder de negociação. Hoje, transparência e governança são requisitos para obter crédito. O improviso é o que mais custa caro”, observa.
Embora a recuperação judicial seja uma alternativa prevista em lei, o especialista alerta que a falta de preparo técnico leva muitos negócios a recorrerem tardiamente a esse instrumento. “O empresário brasileiro ainda associa a reestruturação ao fracasso, mas em mercados desenvolvidos ela é vista como estratégia de sustentabilidade. O objetivo não é confessar crise, e sim preservar o que é viável”, explica.
Para Pelozato, o caminho da sobrevivência empresarial passa por uma mudança de mentalidade. “A empresa que espera o caixa acabar para agir perde a capacidade de negociar e, muitas vezes, o próprio negócio. O planejamento financeiro precisa ser permanente, não emergencial. É isso que separa quem sobrevive de quem fecha as portas”, conclui.
Por Marcos Pelozato
advogado, contador, especialista em reestruturação empresarial, 14 anos de atuação no setor de reestruturação empresarial e recuperação judicial, empresário, mentor para advogados e contadores na área de reestruturação
Artigo de opinião



