Luz azul das telas e seus efeitos na pele: o sol ainda é o maior inimigo
Entenda os impactos reais da luz visível emitida por dispositivos eletrônicos e por que a proteção solar continua indispensável
Nos últimos anos, cresceu a preocupação com os efeitos da luz azul emitida por celulares, computadores e tablets na saúde da pele. A questão é legítima, pois estudos mostram que certos comprimentos de onda da luz visível ativam mecanismos celulares ligados à melanogênese e ao estresse oxidativo. Ou seja, em condições específicas, a pele pode responder à exposição luminosa com manchas ou sinais de fotoenvelhecimento. A dúvida é até que ponto o uso diário das telas realmente representa um risco relevante.
Pesquisas recentes ajudam a esclarecer. Um estudo publicado no Journal of Investigative Dermatology mostrou que indivíduos de pele mais escura desenvolveram hiperpigmentação persistente após exposições repetidas à luz visível, associada à ativação de genes de estresse oxidativo e remodelação dérmica. Da mesma forma, ensaios clínicos de Castanedo-Cázares comprovaram que o uso de protetores com óxidos de ferro, capazes de bloquear a luz visível, previne de forma mais eficaz o escurecimento da pele em comparação a filtros solares convencionais. Esses achados reforçam a relevância da luz visível no contexto das manchas, em especial para pessoas com melasma.
Por outro lado, medições da irradiância das telas indicam que a dose de luz azul emitida por smartphones e computadores é centenas de vezes menor do que a recebida em poucos minutos de exposição ao sol. Um estudo publicado no periódico Energies em 2020 comparou diretamente essas fontes e concluiu que, no uso cotidiano, a contribuição das telas para a pigmentação é desprezível quando comparada à solar. Assim, embora exista mecanismo biológico plausível, a magnitude do efeito das telas isoladamente é considerada muito baixa.
Isso não significa que a discussão deva ser descartada. A ciência ainda investiga os possíveis impactos cumulativos da exposição contínua e de longa duração às telas. Alguns pesquisadores defendem cautela, sobretudo em populações mais suscetíveis, como pessoas com pele mais escura ou com histórico de melasma. Outros afirmam que concentrar a atenção no risco das telas pode tirar o foco do real vilão, que é a radiação solar direta, comprovadamente responsável pela maior parte dos casos de manchas e fotoenvelhecimento.
O consenso atual aponta para estratégias de proteção que contemplem tanto os efeitos da radiação ultravioleta quanto da luz visível. O uso de protetores solares com cor, que contenham óxidos de ferro, mostra-se mais eficaz para quem sofre com melasma ou manchas, segundo ensaios clínicos controlados. Além disso, a aplicação de antioxidantes tópicos pode reforçar a defesa contra radicais livres induzidos pela luz. Para a população em geral, a recomendação mais relevante segue sendo a fotoproteção ampla contra o sol, que continua a ser a principal fonte de radiação prejudicial à pele.
Em resumo, a luz das telas pode contribuir para alterações cutâneas em condições específicas, mas o impacto clínico ainda parece limitado. O que está claramente estabelecido é que a exposição solar, sem proteção adequada, permanece como o fator mais crítico para manchas e envelhecimento. O desafio para médicos e pacientes não é temer o celular ou o computador, mas sim reforçar hábitos consistentes de proteção solar e adotar estratégias específicas para quem já apresenta maior predisposição a alterações pigmentares.
Por Dra. Tainah de Almeida
médica dermatologista especialista em rejuvenescimento; graduação em Medicina pela Universidade Católica de Brasília (UCB); Residência Médica em Dermatologia no HRAN – SES/DF; Pós-graduação em Dermatologia Oncológica no Hospital Sírio Libanês, São Paulo; título de especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); Fellowship em Dermatoscopia e Oncologia Cutânea na Skin Cancer Unit do Arcispedale Santa Maria Nuova, Itália; capacitação na unidade de Melanoma e Lesões Pigmentadas do Hospital Clínic da Universidade de Barcelona, Espanha; atuação em dermatologia geral, estética facial, rejuvenescimento natural e oncologia cutânea.
Artigo de opinião



