A ascensão da telepsicologia no Brasil
Cada vez mais a população reconhece a importância do cuidado com a saúde mental, neste contexto, também é necessário refletir sobre as transformações na área, especialmente com a ascensão da telepsicologia no Brasil. Nos últimos anos, o uso de tecnologias digitais revolucionou o acesso aos serviços de saúde mental, permitindo que pessoas em regiões remotas, que antes enfrentavam barreiras geográficas ou financeiras, possam receber atendimento psicológico de qualidade.
A pandemia de COVID-19 acelerou esse processo e mostrou a relevância das ferramentas digitais no cuidado com a saúde mental. Hoje, plantões psicológicos, psicoterapia individual, grupoterapia, atendimentos de casal e até familiares já são realidade na modalidade online. Essa expansão consolidou a telepsicologia como prática segura e eficaz, derrubando barreiras geográficas e permitindo que tanto pacientes próximos quanto aqueles em áreas de difícil acesso sejam contemplados.
Segundo Leopoldina Veiga Guimarães Ferreira, especialista em Psicologia e Psicoterapia online e docente de Psicologia da Estácio, essa mudança representou uma verdadeira revolução na área. Ela ressalta que muitos pacientes que migraram do presencial para o virtual durante a pandemia optaram por permanecer nessa modalidade devido à eficácia que ela apresentou. Além disso, a comodidade e a flexibilidade tornam o atendimento mais acessível, já que é possível realizar sessões de qualquer lugar com boa conexão à internet.
Entre as principais vantagens do atendimento remoto, Leopoldina aponta que a distância física pode até facilitar o vínculo terapêutico em alguns casos, uma vez que o ambiente virtual ajuda pacientes a se sentirem mais à vontade para compartilhar experiências pessoais. A especialista reforça ainda que a possibilidade de buscar psicólogos fora da cidade de residência ampliou a liberdade de escolha, permitindo, por exemplo, que um paciente brasileiro no exterior continue em terapia com um profissional do seu país. Para ela, a telepsicologia não é uma modalidade inferior, mas sim uma extensão adaptável do setting terapêutico. “Penso que a telepsicologia é um caminho sem volta. O psicólogo tem um papel fundamental de amplificar o uso dessa ferramenta, levando saúde mental aos mais diversos contextos”, afirma.
Outro ponto de destaque é a necessidade de atenção à segurança digital. Leopoldina explica que o psicólogo deve priorizar o uso de plataformas com criptografia de ponta a ponta e orientar o paciente sobre a importância de estar em um ambiente privado durante as sessões. Isso garante que o sigilo profissional, previsto no Código de Ética e na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), seja preservado.
A regulamentação da prática também evoluiu ao longo dos anos. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) passou por diversas atualizações desde a primeira resolução, em 2000. A Resolução nº 11/2018 representou um marco ao formalizar a prática clínica mediada por tecnologias. Já durante a pandemia, em 2020, houve flexibilizações para que a população não ficasse desassistida. Atualmente, a Resolução nº 09/2024 estabeleceu um novo paradigma, eliminando a obrigatoriedade de cadastro no sistema e-Psi e ampliando a autonomia dos profissionais, desde que tenham registro ativo no Conselho Regional de Psicologia e capacidade técnica para a modalidade online.
Para Melissa Fercury, docente de Psicologia da Wyden, “A telepsicologia representa um avanço muito importante em relação ao acesso aos atendimentos psicológicos pois com acesso à internet em qualquer lugar do mundo inclusive o mais remoto qualquer pessoa consegue fazer uso do serviço o que era difícil há alguns anos”.
A presença de especialistas em diferentes regiões do país e até mesmo no exterior também se tornou mais próxima, já que a geografia deixou de ser limitante. Isso ampliou as possibilidades de pacientes encontrarem profissionais especializados em áreas específicas, independentemente de onde estejam.
No entanto, a modalidade exige cuidados. Para casos graves ou de alta complexidade, como transtornos psicóticos, ainda pode ser necessário o acompanhamento presencial. Nessas situações, a avaliação ética e técnica do psicólogo é determinante para definir a viabilidade do atendimento remoto. A própria Leopoldina enfatiza que, mesmo com a expansão digital, não se pode perder de vista a responsabilidade técnica e o compromisso ético que sustentam a profissão.
Tanto Leopoldina quanto Melissa destacam que a telepsicologia não substitui totalmente o atendimento presencial, mas se tornou um recurso essencial para democratizar a saúde mental. “Em síntese, a telepsicologia não substitui o atendimento presencial em todos os casos, mas se mostra uma ferramenta poderosa e complementar na promoção da saúde mental”, completa Melissa.
O crescimento do atendimento remoto também desafia universidades e centros de formação a prepararem psicólogos cada vez mais capacitados para o uso de ferramentas digitais, comunicação empática à distância e condução de intervenções seguras.



