Outubro: Reflexão sobre o acolhimento ao luto parental nas empresas
Como as organizações podem apoiar pais que enfrentam a perda gestacional, neonatal e infantil, promovendo um ambiente de trabalho mais humano e sensível
Outubro é o Mês de Conscientização sobre a Perda Gestacional, Neonatal e Infantil no Brasil, instituído pela Lei Federal nº 15.139/2025. O tema chama atenção para um ponto delicado: como as empresas podem se tornar espaços mais humanos e preparados para acolher o luto parental?
O acolhimento adequado no trabalho pode ter impacto profundo no processo de recuperação emocional. O luto parental é uma dor que atravessa o tempo. Quando uma empresa acolhe com respeito, a pessoa sente que pode existir de novo, sem precisar esconder sua dor para continuar sendo produtiva.
Mulheres chefiam 49% dos lares brasileiros, e muitas delas enfrentam a dor da perda gestacional ou neonatal enquanto precisam trabalhar para sustentar suas famílias. Como então uma empresa deve ajudar essas mulheres?
É neste ponto que o papel da liderança se torna fundamental. O retorno não deve ser tratado como um simples recomeço de tarefas, mas como um processo de readaptação. O líder precisa conversar com quem sofreu a perda antes da volta, entender suas limitações e oferecer flexibilidade, seja com horários reduzidos, home office ou pausas programadas. Essa escuta ativa faz com que a pessoa se sinta segura para voltar a trabalhar.
Demonstrar apoio é essencial, mas há uma linha tênue entre ser solidário e ser invasivo. Muitos colegas querem ajudar, mas não sabem como e, sem orientação, acabam agindo de maneira que, ainda que bem-intencionada, pode causar desconforto.
Nem sempre o apoio precisa vir em palavras, às vezes, o simples ato de não cobrar produtividade imediata já é um acolhimento. Pequenos gestos, como uma mensagem de carinho ou flores enviadas pela empresa, são bem-vindos quando partem de um lugar genuíno. O mais importante é respeitar o silêncio de quem está sofrendo pela perda e mostrar que a pessoa não está sozinha.
Empresas que desejam construir uma cultura mais humana precisam ir além do improviso. Ter políticas claras sobre como agir em situações de luto é uma forma de transformar o acolhimento em prática organizacional e não apenas em gesto pontual.
Um guia de boas práticas pode orientar líderes e equipes sobre o que fazer antes, durante e depois da perda. Isso inclui a forma de comunicar a ausência, o acompanhamento no retorno e a oferta de apoio psicológico. Quando a empresa formaliza esses processos, o cuidado deixa de depender da sensibilidade individual e passa a ser parte da cultura.
Por Ana Beatriz Tartuce Jorge
Mentora de líderes e de carreira, consultora de negócios em RH e psicóloga; 30 anos de atuação no mundo corporativo; formada em Psicologia pela UFRJ; MBA em Gestão de Pessoas, Gestão Empresarial pela FGV-RJ e em Modelagem da Cultura Organizacional; coach pela Sociedade Brasileira de Coach (SBC) e pelo Pro Fit; criadora do método E.L.O Reescreve
Artigo de opinião



