Por que lavar o frango cru antes de cozinhar é um risco à saúde
Entenda como um hábito comum na cozinha pode espalhar bactérias perigosas e causar intoxicações alimentares graves
Mais de 400 mil pessoas morrem todos os anos no mundo por intoxicação alimentar, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um dos hábitos mais perigosos da cozinha doméstica é justamente aquele que muitos acreditam ser um cuidado: lavar o frango cru.
Lavar o frango antes de cozinhar é um gesto comum e, paradoxalmente, letal. Segundo a OMS, as doenças transmitidas por alimentos causam mais de 600 milhões de casos e 420 mil mortes por ano no mundo. Entre as principais fontes de contaminação está o manuseio incorreto de carnes cruas.
Embora pareça um cuidado higiênico, o ato de lavar o frango cru espalha bactérias invisíveis por toda a cozinha. A água não elimina as bactérias. Ao contrário: ela carrega microrganismos do frango para pias, louças, utensílios, bancadas e até para as mãos e roupas de quem manipula o alimento.
Entre os patógenos mais perigosos associados ao frango estão a Salmonella e a Campylobacter, bactérias que podem causar infecções gastrointestinais graves, febre alta, diarreia intensa e, em casos mais severos, hospitalizações e até óbitos. Muitas pessoas acreditam que estão deixando o alimento mais limpo, mas estão transformando sua cozinha em um foco de contaminação cruzada.
Estudos internacionais mostram que as gotículas de água espalhadas durante a lavagem de carnes podem viajar até um metro de distância, contaminando superfícies, esponjas, panos e alimentos prontos para o consumo. E a verdade é simples: nenhuma lavagem é capaz de eliminar bactérias patogênicas.
A única forma segura é o cozimento. O frango precisa atingir pelo menos 74°C para que o calor destrua os microrganismos. O calor é o único aliado da segurança. A água só espalha o problema.
Além desse erro comum, outros hábitos domésticos também colocam a saúde em risco:
1. Deixar alimentos prontos fora da geladeira: as bactérias se multiplicam rapidamente entre 5°C e 60°C, a chamada “zona de perigo”. Leve os alimentos prontos à geladeira em até duas horas após o preparo.
2. Usar a mesma tábua para carnes e vegetais: o corte cruzado é um dos erros mais graves. Tenha tábuas exclusivas para carnes e para vegetais.
3. Não higienizar frutas e verduras corretamente: lave bem em água corrente e deixe de molho em solução sanitizante própria para alimentos, respeitando o tempo indicado no rótulo.
4. Consumir ovos crus ou malcozidos: ovos crus podem conter Salmonella. Prefira ovos pasteurizados e cozidos até a gema endurecer.
5. Usar leite e derivados não pasteurizados: o leite cru pode conter Listeria e E. coli — perigosas especialmente para gestantes, idosos e crianças.
6. Manipular alimentos sem lavar as mãos: a contaminação começa nas mãos. Lave-as sempre antes e depois de tocar em qualquer alimento cru.
Os sintomas de intoxicação alimentar surgem entre poucas horas e alguns dias após o consumo: náuseas, vômitos, febre, diarreia e dores abdominais. Se houver sinais de desidratação ou sintomas persistentes, é essencial procurar atendimento médico.
Mais do que uma questão de limpeza, a segurança dos alimentos é uma questão de saúde pública global. O conhecimento salva vidas. Pequenas mudanças no preparo e na manipulação podem evitar doenças, internações e até mortes. Segurança dos alimentos não é luxo, é responsabilidade.
Por Paula Eloize
especialista em segurança dos alimentos
Artigo de opinião