Rust out: o esgotamento silencioso que corrói a carreira pela falta de sentido
Enquanto o burnout é causado pelo excesso, o rust out nasce do tédio e da desconexão emocional no trabalho, afetando a saúde mental e o desempenho dos profissionais
Se o burnout já é reconhecido como um dos grandes males do mundo corporativo, seu oposto silencioso começa a ganhar atenção: o rust out. O termo, ainda pouco discutido no Brasil, descreve o processo de desgaste emocional causado não pelo excesso de trabalho, mas pela falta de sentido, desafio ou propósito nas atividades profissionais.
O rust out é o esgotamento de quem está “no emprego certo, mas no lugar errado”. Enquanto o burnout nasce do excesso, o rust out surge da falta — de estímulo, de reconhecimento, de espaço para evoluir. É o tédio crônico de quem cumpre tarefas no automático e, aos poucos, apaga.
O psicólogo organizacional Michael Leiter define o rust out como um estado de desinteresse persistente e subutilização de habilidades. Já uma pesquisa da Gallup aponta que mais de 60% dos brasileiros se sentem emocionalmente desconectados de seus trabalhos — o que é um sintoma claro desse fenômeno. Não é desleixo, é adoecimento. O profissional chega no horário, mas entrega o mínimo e já perdeu o brilho no olhar e o desejo de contribuir.
O perigo do rust out está justamente na sua invisibilidade. Diferente do burnout, ele não gera afastamentos ou diagnósticos. É uma corrosão lenta, que as empresas costumam aceitar como normalidade. Só percebem o impacto quando o engajamento cai e os talentos vão embora.
Líderes e organizações precisam aprender a identificar os sinais precoces e criar ambientes que estimulem aprendizado e autonomia. Muitas vezes, a cura não está na saída, mas na reinvenção dentro do próprio time — com novos projetos, desafios ou oportunidades de desenvolvimento.
Três movimentos práticos podem ajudar a sair do rust out: revisitar o propósito, buscar desafios e planejar a transição com responsabilidade. Retomar o “para quê” é o primeiro passo — entender se o trabalho ainda se conecta com seus valores ou se virou apenas um boleto a pagar. Em seguida, antes de pedir demissão, vale provocar o ambiente: pedir um novo projeto, uma nova área, um curso que desperte de novo o interesse. E, se nada disso for possível, então é hora de planejar a saída com calma, estratégia e foco.
O rust out é um alerta, não uma sentença. O mundo do trabalho ainda olha para o esgotamento apenas pelo viés do excesso, mas ignora o outro extremo. O vazio também adoece. E talvez estejamos convivendo com uma epidemia silenciosa de profissionais enferrujando por dentro.
Por Virgilio Marques dos Santos
sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria, gestor de carreiras, PhD, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp, Master Black Belt pela Unicamp, autor do livro "Partiu Carreira", TEDx Speaker, ex-professor de cursos de pós-graduação e especialização na Unicamp e outras instituições, ex-gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas, idealizador do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica
Artigo de opinião