A solidão invisível da juventude brasileira na era digital

Como a exclusão educacional e a desigualdade social aprofundam o isolamento emocional dos jovens conectados

Em setembro de 2025, o relatório Education at a Glance, da OCDE, revelou que 24% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos não estudam nem trabalham. Esse dado, embora represente uma melhora em relação a 2019 (quando o índice era de 30%), ainda posiciona o Brasil como o quarto país com maior proporção de jovens “nem-nem” no mundo. Como pode uma geração tão conectada digitalmente estar tão desconectada emocionalmente? A solidão juvenil, muitas vezes invisível, é um fenômeno que exige atenção urgente da academia, das políticas públicas e da sociedade civil.

A solidão entre jovens não é apenas uma questão subjetiva. Ela está profundamente relacionada a fatores estruturais como exclusão educacional, desemprego, desigualdade de gênero e ausência de políticas de acolhimento. Segundo o mesmo relatório da OCDE, 29% das mulheres jovens estão na condição de “nem-nem”, contra 19% dos homens. Essa disparidade revela como a vulnerabilidade social afeta de forma desigual os gêneros, ampliando o risco de isolamento e sofrimento psíquico.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também lançou em 2025 uma investigação sobre jovens que permanecem em abrigos após a maioridade, evidenciando a fragilidade das redes de apoio e a dificuldade de inserção social dessa população. A permanência prolongada em instituições de acolhimento pode intensificar sentimentos de abandono, insegurança e solidão, especialmente quando não há perspectivas concretas de autonomia.

Outro fator relevante é a baixa adesão ao ensino técnico. Apenas 14% dos estudantes brasileiros do ensino médio estão matriculados em cursos profissionalizantes, enquanto a média da OCDE é de 44%. Essa lacuna compromete a empregabilidade e o desenvolvimento de habilidades sociais, essenciais para a construção de vínculos e pertencimento.

A psicologia compreende a solidão como uma experiência subjetiva de desconexão, que pode gerar impactos significativos na saúde mental, como ansiedade, depressão e baixa autoestima. Quando associada à falta de oportunidades e à exclusão social, essa solidão se torna crônica e silenciosa, dificultando a construção de projetos de vida.

A solidão dos jovens brasileiros é um reflexo de um sistema que ainda falha em garantir inclusão, formação e oportunidades. Para enfrentá-la, é necessário ampliar o acesso à educação técnica, fortalecer políticas de acolhimento e investir em saúde mental. A universidade, como espaço de formação crítica e cidadã, tem papel fundamental na promoção de debates, ações comunitárias e projetos de extensão que acolham e escutem esses jovens.

E você, como educador, gestor ou cidadão, está disposto a enxergar e agir diante da solidão que habita os corredores da juventude?

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Por Elizabeth Nery Sinnot

psicóloga clínica, mestre em psicologia, MBA em Liderança, Inovação e Gestão 3.0, docente em graduação e pós-graduação na Escola de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter, professora-tutora do curso de Gestão em Recursos Humanos e Administração EAD

Artigo de opinião

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