A infância como base da ética no ambiente corporativo
Como valores aprendidos na infância influenciam comportamentos e dilemas éticos nas empresas
O papel da infância na formação de valores éticos não é apenas simbólico. A UNESCO, em seu relatório Framework for Action on Values Education in Early Childhood, aponta que valores-chave, atitudes básicas e habilidades de resolução de problemas se desenvolvem antes da idade escolar. Ou seja, muito antes de vestir um crachá, as bases da conduta ética já começam a ser moldadas.
Para a S2 Consultoria, referência nacional em comportamento organizacional, essa conexão ajuda a explicar por que dilemas éticos continuam a se reproduzir dentro das empresas. “A ética se aprende pelo exemplo. A criança observa como os adultos lidam com pequenas situações — furar uma fila, omitir uma informação, aceitar um favor em troca de algo — e carrega esses padrões para a vida adulta. No ambiente corporativo, essas escolhas aparentemente pequenas se transformam em dilemas de integridade e impacto coletivo”, afirma Alessandra Costa, sócia da S2 e especialista em cultura organizacional.
Essa mesma lógica aparece no Triângulo do Assédio e a Roda da Mudança Comportamental, estudo desenvolvido pela S2 e reconhecido pela USP, que analisou mais de 24 mil profissionais de 174 organizações brasileiras ao longo de seis anos. O levantamento mostrou que profissionais de gerações mais velhas praticam 13% mais assédio moral do que os mais jovens — um reflexo direto da normalização de condutas abusivas em épocas em que tais comportamentos eram encarados como parte da convivência. Já os mais novos se revelaram mais resistentes, rejeitando essas práticas com maior firmeza.
Segundo Alessandra, o desafio das organizações está em quebrar esse ciclo, trazendo a ética para a prática cotidiana. “Não basta criar códigos de conduta. É preciso traduzir valores em experiências reais: criar espaços de discussão sobre dilemas do dia a dia, valorizar exemplos positivos de liderança e não silenciar frente a comportamentos que corroem a integridade.”
O que as empresas podem fazer, na prática?
1- Dar o exemplo pela liderança: “Tudo começa pelo olhar para cima. Se o líder é íntegro, os times reproduzem essa integridade. Se ele relativiza, os demais aprendem a relativizar também”, ressalta a especialista;
2- Transformar regras em vivências: “Políticas não bastam no papel. É preciso criar dinâmicas que exponham dilemas reais e mostrem alternativas, para que as pessoas sintam a ética na prática”, destaca Alessandra.
3- Estimular uma cultura de feedback: “Silenciar é legitimar. Quando atitudes abusivas não são confrontadas, a empresa reforça a ideia de que são toleráveis”, finaliza a sócia da S2.
Por Alessandra Costa
sócia da S2 Consultoria, especialista em cultura organizacional
Artigo de opinião