Quiet Cracking: A Síndrome Silenciosa que Ameaça o Futuro do Trabalho

Como a fadiga emocional e a sobrecarga no ambiente corporativo podem levar ao colapso coletivo em 2025

Se 2022 foi o ano do quiet quitting — a onda global de profissionais que passaram a fazer apenas o mínimo necessário para preservar a saúde mental —, 2025 marca a ascensão de um termo ainda mais preocupante: o quiet cracking, ou “rachadura silenciosa”.

O quiet cracking representa o ponto de ruptura emocional e profissional a que muitos trabalhadores chegaram após anos de sobrecarga, medo e insegurança no ambiente corporativo. Não é mais uma escolha de desconexão, como o quiet quitting foi. É o colapso que vem quando o elástico é esticado demais por tempo demais — e finalmente arrebenta.

Esse fenômeno surge da combinação perigosa de alta pressão por resultados, insegurança no emprego e liderança despreparada para lidar com o emocional das equipes. Normalizamos o insustentável. Profissionais estão acumulando funções de colegas demitidos, convivendo com o medo constante de cortes e, ainda assim, tentando entregar mais com menos. Isso tem um preço, e ele começa a ser cobrado agora.

Entre os sintomas mais recorrentes estão irritabilidade, explosões emocionais, crises de ansiedade, queda na qualidade das entregas e isolamento social. Nas equipes, o reflexo aparece em conflitos constantes, clima tenso e comunicação passivo-agressiva — sinais de que algo profundo está se rompendo. O profissional não está simplesmente desmotivado. Ele está em colapso, ainda que silencioso. E, muitas vezes, nem ele percebe o tamanho da rachadura até que seja tarde demais.

O problema não é apenas individual, mas organizacional. Não dá mais para tratar o esgotamento como fragilidade pessoal. A rachadura é sistêmica. É uma falha na cultura de trabalho, na forma como lideramos e equilibramos demandas.

As quatro principais causas do quiet cracking são:
– A cultura do “faça mais com menos”, intensificada após sucessivas rodadas de demissões;
– O burnout crônico, que deixou de ser exceção e virou estado permanente;
– O medo e a incerteza, que fazem profissionais suportarem situações abusivas;
– A liderança despreparada, focada em métricas e não em pessoas.

Empresas que continuam ignorando a fadiga coletiva estão corroendo a base da produtividade. Ninguém entrega qualidade à beira do colapso.

Para conter o avanço da rachadura, líderes e profissionais devem compartilhar a responsabilidade. Práticas simples e imediatas, como reconhecer sinais de exaustão, impor micro-limites e criar espaços de diálogo psicológico seguro nas equipes, são essenciais. Um gestor que pergunta “como posso te ajudar a ter uma semana mais equilibrada?” faz mais pela saúde mental do time do que qualquer programa de benefícios.

A prevenção precisa ir além de oferecer terapia: é preciso reconstruir a cultura de trabalho. Isso significa reavaliar prazos, proteger as equipes e entender que o bem-estar é uma condição para o resultado, não um luxo.

V

Por Virgilio Marques dos Santos

sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria, gestor de carreiras, PhD, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp, Master Black Belt pela Unicamp, autor do livro "Partiu Carreira", TEDx Speaker, ex-professor de cursos de pós-graduação na Unicamp e outras instituições, ex-gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas, idealizador do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica

Artigo de opinião

👁️ 51 visualizações
🐦 Twitter 📘 Facebook 💼 LinkedIn
compartilhamentos

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar