Entre o que se diz e o que se entende

Por Jana Fogaça, CEO da Descomplica Comunicação

Outro dia, li o novo Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) e o dado me paralisou:
3 em cada 10 brasileiros entre 15 e 64 anos não conseguem compreender plenamente o que leem.

Vinte e nove por cento.
Quase um terço de nós.
Não estamos falando de quem não aprendeu a ler — mas de quem lê e não entende.

E então me perguntei: será mesmo que é só um problema de educação formal?
Ou é o reflexo de um país que fala muito, mas ouve pouco?

Vivemos um tempo em que a palavra perdeu densidade.
Os discursos são instantâneos, os comentários são respostas antes da pergunta terminar,
e as empresas estão sempre “comunicando”, mas raramente conversando.

A comunicação virou corrida — e quem chega primeiro, nem sempre diz o que precisa ser dito.

A gente aprendeu a falar bonito, mas não a falar claro.
A escrever para impressionar, não para conectar.
E nesse jogo de aparências, o entendimento real — aquele que transforma — vai se perdendo pelo caminho.

Como mulher, sei bem o que é ter algo a dizer e não ser ouvida.
Em reuniões, ideias ditas por vozes femininas ainda são rebatidas com olhares de dúvida, ou repetidas por um homem logo depois — e então, finalmente, são levadas a sério.
O mercado exige que sejamos firmes, mas não demais; seguras, mas sem parecer “mandonas”;
sempre dosando o tom para não ferir o ego alheio.

Mas comunicar é, antes de tudo, um ato de coragem.
Coragem de se mostrar inteira num mundo que prefere rótulos curtos.
De dizer o que precisa ser dito — mesmo quando há barulho demais pra ouvir.

Quando criei a Descomplica, o propósito era esse: traduzir o complexo sem empobrecer o sentido.
Comunicar é desatar nós. É devolver às palavras o que elas sempre tiveram de mais potente: humanidade.

Afinal, de que adianta a revolução da inteligência artificial, se a gente ainda tropeça na empatia?
De que serve tanta informação, se 29% das pessoas não conseguem compreender o básico — e outras tantas não conseguem se fazer compreender?

O verdadeiro desafio da comunicação não é falar mais.
É fazer-se entender num mundo que desaprendeu a escutar.
E talvez a nova revolução não esteja na próxima tecnologia, mas em algo antigo e essencial:
escutar com intenção e falar com verdade.

*Jana Fogaça é CEO da Descomplica Comunicação, especialista em linguística e comunicação empresarial, com mais de 20 anos de experiência ajudando marcas e pessoas a se fazerem entender com propósito e autenticidade.

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