Burnout da Beleza: Quando o Autocuidado se Torna Exaustão Estética

A pressão por padrões estéticos inalcançáveis transforma o cuidado pessoal em um ciclo de cansaço físico e emocional, exigindo uma nova relação com a beleza.

A rotina de cuidados promete bem-estar, mas a cultura da beleza atual tem arrastado muita gente para um cansaço que drena tempo, dinheiro e autoestima. O fenômeno “burnout da beleza” ganha tração à medida que crises econômicas e sociais alimentam a necessidade de controle pela aparência. A Vogue Business insere esse quadro na chamada Great Exhaustion e descreve como a pressão constante por resultados visuais amplia o estresse e mantém o consumo mesmo quando a satisfação cai, um paradoxo que captura bem a lógica do esgotamento estético.

Os números ajudam a entender por que a roda gira sem parar. A International Society of Aesthetic Plastic Surgery registra alta robusta em procedimentos estéticos e informa que as intervenções não cirúrgicas cresceram quase 58% no acumulado de quatro anos até o levantamento de 2022. Em 2023, o volume total de intervenções estéticas pela amostra global da entidade chega a 34,9 milhões, o que sinaliza normalização do consumo e um padrão de manutenção cada vez mais frequente.

A saturação não nasce só do excesso de produtos. Ela se alimenta da exposição permanente a conteúdos que prometem pele perfeita e performance sem fim. Evidências recentes sugerem que reduzir o uso de redes pode melhorar a percepção corporal de jovens em poucas semanas. Segundo psicólogas como Iris Simões e Juliana Pereira, o burnout da beleza se manifesta por ansiedade, irritabilidade, cansaço crônico, compulsões estéticas ou alimentares, e em casos mais graves pode evoluir para depressão.

Há quem argumente que a beleza é espaço de expressão e até de cuidado emocional. Trata-se de uma perspectiva válida. A questão é quando o rito vira dever e a régua se move o tempo todo por uma inflação de procedimentos e promessas que poucas pessoas conseguem sustentar sem custo psíquico. A Dazed populariza o termo “beauty burnout” ao discutir saídas que resgatam autonomia e prazer e aponta caminhos para retomar a relação com a beleza de forma mais saudável.

O caminho de saída passa por redefinir o objetivo. Curadoria do ambiente digital para reduzir disparadores de comparação ajuda e tem respaldo em pesquisas. Troca de sobrecarga por rotinas simples e sustentáveis devolve tempo e dinheiro. Transformar a experiência em algo coletivo, como maquiar amigas ou compartilhar aprendizados sem cobrança de performance, reconecta o cuidado com vínculo e pertencimento. A indústria também tem papel a cumprir com menos lançamentos redundantes e mais transparência sobre limites de resultado, reconhecendo os sinais de fadiga do consumidor.

No fim, o esgotamento da beleza expõe um impasse do autocuidado contemporâneo. Em vez de libertar, muitas vezes aprisiona em metas inalcançáveis. Dados setoriais e o humor social indicam que a pressão tende a continuar alta, mas escolhas orientadas por sentido e não por escassez podem virar o jogo. Vale lembrar o ponto central das análises recentes sobre o tema: a cultura da beleza só deixa de cansar quando volta a servir a vida de quem a pratica.

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Por Dra. Tainah de Almeida

especialista em Dermatologia na Clínica Inovaderm; graduação em Medicina pela Universidade Católica de Brasília (UCB); Residência Médica em Dermatologia no HRAN – SES/DF; Pós-graduação em Dermatologia Oncológica no Hospital Sírio Libanês; título de especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD); Fellowship em Dermatoscopia e Oncologia Cutânea na Skin Cancer Unit do Arcispedale Santa Maria Nuova, Itália; capacitação na unidade de Melanoma e Lesões Pigmentadas do Hospital Clínic da Universidade de Barcelona, Espanha; atuação em dermatologia geral, estética facial, rejuvenescimento natural e oncologia cutânea

Artigo de opinião

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