Acessibilidade Linguística: O Desafio Invisível dos Eventos no Brasil
Como a falta de tradução simultânea e recursos multilíngues limita a inclusão e a competitividade em eventos corporativos nacionais
O Dia Internacional da Tradução, celebrado em 30 de setembro, é uma oportunidade para refletir sobre um aspecto muitas vezes negligenciado nos eventos corporativos e de grande porte no Brasil. Em um mundo globalizado, onde negócios e conexões se formam em segundos, a ausência de tradução simultânea, intérpretes qualificados e recursos como closed caption exclui não apenas estrangeiros, mas também pessoas com deficiência auditiva, resultando na perda de oportunidades de networking, atração de investimentos e fortalecimento da imagem global das empresas.
Segundo a Associação Brasileira de Promotores de Eventos (ABRAPE), o setor de eventos no país movimenta bilhões de reais por ano, mas poucos organizadores investem em serviços estruturados de tradução. Conferências internacionais como o Rio2C revelam a demanda crescente, mas a maioria dos eventos nacionais ainda ignora a necessidade de um planejamento multilíngue que considere idiomas estrangeiros e Libras. Enquanto a acessibilidade física já se tornou pauta comum, a acessibilidade linguística segue fora do radar de grande parte do mercado.
Em países como Austrália e diversas nações da União Europeia, a tradução simultânea é item básico no checklist de qualquer conferência, independentemente do porte. Essa prática não é apenas uma questão de inclusão, mas também uma estratégia de competitividade. De acordo com dados da União Europeia, eventos com infraestrutura multilíngue têm até 30% mais participação internacional e geram maior volume de negócios, já que a barreira do idioma deixa de ser um obstáculo.
No Brasil, a falta de intérpretes qualificados e de planejamento prévio impede que o país alcance padrões internacionais de inclusão em eventos. Há quem argumente que o custo de implementação é alto, mas novas tecnologias já mudaram essa equação. Plataformas de tradução simultânea remota podem reduzir despesas em até 60%, eliminando a necessidade de cabines físicas e permitindo operação totalmente online. Essa inovação torna viável que até eventos de médio porte ofereçam recursos multilíngues de forma eficiente.
A acessibilidade linguística vai muito além de traduzir palavras, envolvendo compreender o contexto cultural, adaptar termos técnicos e democratizar o acesso à informação para todos os públicos. Sem isso, perde-se diversidade de participação e deixa-se de explorar o potencial de conexões e negócios em um mercado cada vez mais globalizado.
O Brasil só será plenamente competitivo se incluir a acessibilidade linguística como parte essencial de qualquer evento. Isso exige compromisso de organizadores, empresas e instituições para que falar mais de um idioma nos palcos deixe de ser exceção e passe a ser regra. A inclusão verdadeira começa quando todos podem ouvir, entender e participar, independentemente da língua que falam.
Por Eduardo Barbato
especialista em tecnologia aplicada à comunicação e inclusão digital, fundador e CEO da Tontongue, atuou na liderança de projetos internacionais e é fundador de iniciativas voltadas à inovação em interpretação multilíngue
Artigo de opinião