Portugal retoma concessão do Estatuto de Igualdade para brasileiros após suspensão de quase três meses
A retomada do reconhecimento formal dos direitos civis e políticos reacende o debate sobre transparência e política migratória em Portugal
O governo de Portugal voltou a publicar no dia 5 de setembro, no Diário da República, cerca de 240 concessões do Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres a cidadãos brasileiros residentes legalmente no país, após uma suspensão que durava desde 16 de junho de 2025. A medida beneficia imigrantes que aguardavam o reconhecimento formal de direitos civis, políticos e trabalhistas equivalentes aos dos portugueses, interrompidos sem justificativa oficial.
De acordo com o Diário da República (5/9/2025), as novas concessões encerram um período de incerteza jurídica que afetava milhares de solicitantes. Durante a suspensão, brasileiros com residência regular ficaram impedidos de exercer plenamente direitos garantidos pelo Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta de 2000, firmado entre Brasil e Portugal e promulgado no Brasil pelo Decreto nº 3.927/2001.
O Estatuto assegura prerrogativas fundamentais, como votar, ser eleito, ocupar cargos públicos e atuar em igualdade no mercado de trabalho. Apesar de o tratado seguir válido, a ausência de publicações oficiais deixou os brasileiros invisíveis do ponto de vista legal. Muitos não conseguiam acessar direitos que já estavam juridicamente assegurados.
Segundo dados do Itamaraty, havia em 2023 cerca de 513 mil brasileiros vivendo em Portugal, a segunda maior comunidade de emigrantes brasileiros no exterior, atrás apenas dos Estados Unidos. A Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) confirma que 368.449 brasileiros tinham autorização de residência ativa em 2023, representando 35,3% da população estrangeira no país. Já o Ministério do Trabalho e da Segurança Social de Portugal informou que os imigrantes, com destaque para os brasileiros, aportaram 2,7 mil milhões de euros à Segurança Social em 2023, valor suficiente para financiar 17% das pensões nacionais.
A paralisação ocorreu em meio a mudanças recentes na política migratória portuguesa. Entre as medidas estão o fim da manifestação de interesse como via de regularização sem visto; a criação de uma unidade especial da Polícia de Segurança Pública para fiscalização de estrangeiros; a restrição ao reagrupamento familiar apenas após dois anos de residência; a proposta de aumento do tempo mínimo de residência para naturalização de brasileiros, de cinco para até sete anos, segundo debates em andamento no Parlamento.
A retomada do tratado representa um marco positivo, reafirmando os laços históricos entre Brasil e Portugal. Este acordo é um símbolo da proximidade construída ao longo dos séculos e sua continuidade fortalece a cooperação bilateral, abrindo novas oportunidades de desenvolvimento e integração.
Por Rita Silva
Graduada na Universidade Veiga de Almeida, pós-graduada em Advocacia Empresarial Trabalhista – Previdenciária e Previdência Privada e em Seguro Social na Universidade de Lisboa; Mestranda em Direito Tributário Internacional; especialista em Direito dos Expatriados, Imigrantes e Estrangeiros, Acordos e Tratados Internacionais, Direito de Família Internacional, Direito Internacional Privado, Direito Previdenciário Internacional, Direito do Trabalho com foco em Expatriação, Direito dos Aeronautas; palestrante, escritora, consultora jurídica, diretora de relações internacionais e embaixadora do IBDP nos EUA; presidente da Comissão de Direito Internacional do Instituto IBRAPEJ; CEO do Internazionale – Grupo de Estudos em Direito Internacional; fundadora da Comunidade PrevConnection; mentora para advogados que queiram internacionalizar suas carreiras.
Artigo de opinião