Setembro Amarelo e a nova NR-1: o papel transformador das empresas na saúde mental no trabalho
Com a atualização da NR-1, a gestão dos riscos psicossociais se torna obrigatória, colocando o RH como protagonista na prevenção do adoecimento mental e promoção do bem-estar corporativo.
A campanha Setembro Amarelo, promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), tem ganhado força desde sua criação, mas em 2025 ela se conecta diretamente a uma nova realidade legal: a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que torna obrigatória a gestão dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho. O que antes era uma pauta de conscientização agora se transforma em exigência regulatória e o RH passa a ocupar um papel central nessa transformação.
Entre 2000 e 2019, o Brasil já registrava um aumento de 57% nas mortes por suicídio. Em 2023, o Sistema Único de Saúde contabilizou mais de 11 mil internações por tentativas de suicídio. Em 2024, os afastamentos por transtornos mentais chegaram a 472.328 casos, um salto de 68% em relação ao ano anterior, com destaque para ansiedade e depressão. Esse crescimento acelerado pressionou o debate público e regulatório, culminando na revisão da NR-1 pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
A nova norma, que entra em vigor em maio de 2026, exige que empresas incluam riscos psicossociais como estresse crônico, burnout, assédio moral e sobrecarga nos Programas de Gerenciamento de Riscos (PGR).
“A norma reconhece que o sofrimento psíquico deixou de ser tratado como uma questão exclusivamente individual e passou a ser considerado um risco ocupacional, que exige gestão ativa e estratégica, assim como qualquer outro fator de risco no ambiente de trabalho”, afirma o Dr. Marco Aurélio Bussacarini, especialista em Medicina Ocupacional pela USP e CEO da Aventus Ocupacional.
O impacto do adoecimento mental vai além dos números. Ele afeta diretamente a dinâmica das equipes, a produtividade e a reinserção dos trabalhadores após longos períodos de afastamento. Nesse Setembro Amarelo, com a nova NR-01, o RH deixa de ser apenas executor de ações pontuais e passa a ser protagonista na construção de ambientes emocionalmente seguros. A prevenção começa com escuta ativa, diagnósticos precisos e políticas permanentes. Entre as práticas recomendadas estão:
– Capacitação de lideranças para identificar sinais de sofrimento e adotar posturas de acolhimento.
– Censos de saúde mental e análise de indicadores como absenteísmo e presenteísmo.
– Ambientes com segurança psicológica e canais de apoio emocional.
– Programas de terapia acessíveis e escaláveis.
– Comunicação interna ativa com campanhas educativas e rodas de conversa.
A campanha do Setembro Amarelo nos lembra da urgência do tema e a nova NR-1 formaliza essa realidade e exige ação. Cabe ao RH liderar essa mudança, com estratégia, empatia e compromisso.
Por Dr. Marco Aurélio Bussacarini
Graduado em Medicina pela UNICAMP, especialista em Medicina Ocupacional pela USP, CEO da Aventus Ocupacional, especialista em administração hospitalar e gestão de empresas, experiência no setor público e privado, gestor de saúde no Ministério da Saúde, fundador e diretor de cooperativas médicas e de crédito
Artigo de opinião