Diabetes: o inimigo silencioso que muitos nem sabem que têm

Vivemos numa era de avanços médicos incríveis — mas, paradoxalmente, milhões de pessoas em todo o mundo carregam um diagnóstico de diabetes sem nem saber. Quando se sabe, muitas vezes o tratamento é lento ou inadequado. E isso custa caro — para quem vive, para a saúde pública e para a sociedade como um todo.

Descobrindo o problema

Uma nova análise global publicada em The Lancet Diabetes & Endocrinology, conduzida pelo IHME (Institute for Health Metrics and Evaluation), revelou números alarmantes:

  • Em 2023, 44% das pessoas com diabetes com 15 anos ou mais não sabiam que tinham a doença. News-Medical

  • Destas que foram diagnosticadas, 91% estavam em algum tipo de tratamento farmacológico. News-Medical

  • Mas entre as tratadas, só 42% conseguiam controlar o nível de glicose adequadamente. News-Medical

  • Ou seja: apenas 21% de todas as pessoas com diabetes no mundo têm sua condição sob controle ótimo. News-Medical

Além disso, jovens são um grupo com altíssimo índice de subdiagnóstico — embora tenham risco de complicações sérias ao longo da vida. News-Medical


Por que tantos ficam sem diagnóstico ou sob tratamento adequado

Vários fatores convergem para esse cenário preocupante:

  1. Sintomas silenciosos nos estágios iniciais — sede, vontade de urinar, cansaço podem ser sutis, ignorados ou atribuídos a fadiga normal.

  2. Acesso desigual aos serviços de saúde — em muitos países com renda média ou baixa, exames simples como glicemia ou teste de HbA1c não são rotina ou elevados de custo.

  3. Falta de educação em saúde — pessoas desconhecem os fatores de risco (como obesidade, sedentarismo, histórico familiar), ou não sabem os sinais das complicações.

  4. Barreiras culturais e psicológicas — medo do diagnóstico, estigma, aceitação tardia de que há algo grave.

  5. Tratamento incompleto ou ineficaz — mesmo quem já foi diagnosticado encontra dificuldades para manter o controle: dieta, acompanhamento médico, medicamentos, aferição de glicose, monitoramento constante.

  6. Disparidades geográficas — regiões pobres ficam muito atrás. Por exemplo, na África Subsaariana Central menos de 20% das pessoas com diabetes sabem que têm essa condição. News-Medical


As consequências de não saber ou tratar mal

Ignorar o diabetes — ou tratá-lo de forma parcial — não é “uma folga”, é perigo:

  • Danos aos vasos sanguíneos, olhos, rins, nervos — complicações irreversíveis que reduzem qualidade de vida.

  • Risco maior de infecções, dificuldades na cicatrização, problemas cardiovasculares.

  • Custo emocional e financeiro: internações, terapias mais pesadas, medicamentos para complicações.

  • Para sistemas públicos de saúde, um fardo crescente — quanto mais cedo se detecta, menos “surpresas caras” surgem.


O que pode e deve ser feito

Para resgatar essas pessoas “invisíveis”— ou “quase invisíveis” para o sistema — é preciso ação em múltiplos níveis:

  • Políticas públicas focadas em rastreamento: campanhas de prevenção e diagnóstico precoce, exames simples disponíveis em postos de saúde, atenção primária fortalecida.

  • Educação em saúde ampla: informar sobre sintomas, riscos, estilo de vida, importância do controle. Escolas, empresas, mídia social, tudo conta.

  • Acesso acessível a tratamento: medicamentos, monitoramento de glicose, orientação nutricional, suporte psicológico.

  • Tecnologia a favor: uso de telemedicina, aplicativos que ajudem a lembrar medicação ou exames, testes domiciliares.

  • Foco especial em populações vulneráveis: jovens, pessoas de baixa renda, comunidades remotas, regiões com menos infraestrutura de saúde.


Um alerta para todos nós

Se quase metade das pessoas com diabetes no mundo não sabe que tem, isso deveria nos incomodar. O diabetes não é uma questão individual só — é uma questão de saúde pública, de responsabilidade comunitária.

Quando uma pessoa descobre apenas depois que há complicações irreversíveis, o prejuízo é enorme. Mas quando o diagnóstico vem cedo, com tratamento adequado, dieta, atividade física e suporte, muitas complicações podem ser evitadas — viver melhor, por muito mais tempo.


Em síntese: o diabetes continua sendo um dos grandes “problemas ocultos” da saúde global. Reconhecer suas implicações, forçar políticas de diagnóstico precoce e garantir tratamento de qualidade não é luxo — é urgência.

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar