Setembro Amarelo: A Importância do Esforço Coletivo na Prevenção do Suicídio
Identificar sinais de risco, oferecer apoio e fortalecer redes de cuidado são atitudes essenciais para salvar vidas
A campanha Setembro Amarelo destaca a importância da prevenção do suicídio, problema que, só no Brasil, soma cerca de 14 mil casos por ano, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). São múltiplos os fatores que levam uma pessoa a tirar a própria vida. “Em geral, atribui-se o suicídio à depressão, mas ela não é a única causa. Aliás, nem todas as pessoas que morrem por suicídio são clinicamente deprimidas”, observa a psicóloga Juliana Sato, especialista em suicidologia e prevenção de riscos à saúde mental. Segundo explica, assim como a causa, a prevenção do suicídio é multifatorial e “exige fortalecimento das redes de apoio informais juntamente com acompanhamento profissional”.
No Brasil, o suicídio é deflagrado a partir de uma combinação de elementos, como os desafios impostos pela desigualdade social, a dificuldade de acesso aos serviços de saúde especializados, o estigma em torno da saúde mental, o racismo, a homofobia, a violência doméstica e o abuso sexual.
Profissionais que trabalham sob pressão extrema, que precisam lidar com alta carga de responsabilidade, como policiais, médicos e veterinários, também estão sujeitos a transtornos mentais severos e, em casos mais extremos, ao suicídio. “São profissões com altos índices de Burnout, fadiga e desgaste emocional diante da constante exposição à dor e a perigos, sem contar o peso de tomar decisões difíceis”, explica a psicóloga, que também é referência em luto no setor petvet.
Entre adolescentes, o uso abusivo de tecnologia é um agravante. Estudos revelam que jovens que passam mais de cinco horas por dia conectados têm até 66% mais chance de apresentar fatores de risco associados ao suicídio. Por outro lado, dados da Unicef mostram que, durante a pandemia, 72% dos adolescentes relataram sentir necessidade de pedir ajuda, e 36% deles buscaram apoio, principalmente nos amigos ou namorados. “Isso mostra que, em momentos de crise, os jovens tendem a recorrer primeiro às suas redes de confiança. O que reforça a importância de preparar os familiares, as escolas e as comunidades para acolhê-los”, afirma Juliana.
Atitudes que podem salvar vidas
Observe os sinais – Embora seja impossível prever com certeza que a pessoa tentará se matar, há sinais de alerta que podem indicar maior vulnerabilidade, de acordo com a especialista. “O mais importante é levar qualquer sinal a sério, lembrando sempre que o suicídio resulta de diversas variáveis combinadas”, ressalta a psicóloga, que cita os principais comportamentos e sintomas que devem ser observados:
– Falar sobre morte; comentários e opiniões que reflitam desesperança e pessimismo, como “nada vai dar certo” ou “sou um peso”.
– Isolamento social.
– Perda de interesse em atividades que antes geravam prazer e falta de motivação.
– Alterações bruscas de humor.
– Falta de sono ou apetite.
– Cicatrizes e ferimentos que indiquem automutilação.
– Comportamentos de risco.
Ofereça ajuda – O silêncio pode ser mais perigoso do que a aproximação. Portanto, amigos e familiares podem e devem abordar a pessoa assim que perceberem sinais de alerta para o suicídio. Nesse caso, é essencial ouvir sem julgamentos, abrir espaço para a fala e perguntar diretamente se a pessoa pensa em suicídio — essa pergunta não induz, mas abre caminho para ajuda. Não guarde segredo: acione adultos, no caso de menores, ou profissionais de confiança, e incentive o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.
A mesma recomendação vale para o ambiente de trabalho. Aproxime-se da pessoa que apresente comportamento anormal com respeito e empatia, em local reservado, demonstrando preocupação genuína. Ofereça-se para ouvir o que ela tem a dizer e sugira apoio profissional. Se houver risco evidente, é fundamental fazer encaminhamento para a área e os recursos disponíveis.
Crie rede de apoio na empresa – As organizações têm papel estratégico. É possível agir implementando protocolos institucionais de acolhimento, oferecendo canais de escuta confidenciais, promovendo campanhas educativas e disponibilizando acompanhamento psicológico. Capacitar lideranças para identificar sinais de risco e combater o estigma em torno da saúde mental também deve estar na estratégia. O suicídio é multifatorial, e por isso a resposta precisa ser integrada: individual, comunitária e institucional.
Em casos de reincidência, é ainda mais importante fortalecer a rede de apoio e garantir continuidade da prevenção e do tratamento, “lembrando que o suicídio resulta de elementos biológicos, psicológicos e sociais que se somam”, conclui.
Por Juliana Sato
Psicóloga graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, pós-graduação em Distúrbios Alimentares pela Unifesp, especialista em suicidologia e prevenção de riscos à saúde mental, certificada pela Association for Pet Loss and Bereavement, membro da diretoria da Ekôa Vet – Associação Brasileira em Prol da Saúde Mental na Medicina Veterinária, consultora e mentora em saúde mental no segmento pet vet.
Artigo de opinião