Demissões em Massa no Itaú Revelam Deficiências na Liderança Emocional Corporativa
O uso exclusivo de métricas de produtividade no home office expõe os riscos do controle excessivo e o impacto negativo na saúde mental dos trabalhadores
A recente decisão do Itaú de demitir cerca de mil funcionários após monitorar a produtividade no home office reacende o debate sobre como a falta de liderança emocional no RH pode levar a medidas extremas que afetam diretamente a saúde mental dos trabalhadores. Para especialistas, a prática de transformar métricas em critério único de avaliação reduz pessoas a números e gera um efeito devastador tanto em quem é desligado quanto em quem permanece.
“Quando uma empresa opta por medir apenas o que é visível, ignora a base invisível que sustenta o desempenho, ou seja, saúde mental, motivação e propósito. O que se gera é um efeito dominó de adoecimento, alta rotatividade e, no longo prazo, prejuízo financeiro”, afirma a psicanalista Ana Lisboa, fundadora da UniAltis, universidade dedicada à saúde mental corporativa.
De acordo com a especialista, entre os desligados prevalecem sentimentos de descarte e trauma, e entre os que ficam, se instala o medo de ser o próximo. “O resultado é um ambiente de trabalho marcado pela desconfiança, pelo silêncio e pela perda de engajamento. A cultura organizacional deixa de ser um espaço de inovação e passa a ser um terreno estéril, regido pela pressão e pela vigilância”.
Para Ana Lisboa, demissões em larga escala não revelam apenas falhas individuais, mas sim problemas estruturais da gestão. “Se um ou dois funcionários apresentam baixo desempenho, pode ser algo pontual. Mas quando mil profissionais são avaliados de forma semelhante, isso pode evidenciar tanto um abandono prolongado da liderança quanto falhas no próprio processo de avaliação. Em vez de revisar métodos, capacitar gestores e reorganizar estratégias, muitas empresas optam pela saída mais rápida: demitir. O risco é alto, porque a causa real permanece sem resposta e a cultura organizacional se fragiliza ainda mais”.
Decisões como a do Itaú também acabam servindo de modelo para outras empresas que buscam cortar custos ou aumentar o desempenho de forma imediata. O risco, segundo Lisboa, é criar um ciclo de práticas tóxicas que enfraquece ainda mais o mercado de trabalho. “A recente atualização da NR-1 já deixou claro que saúde mental deve estar no mesmo patamar da segurança física. Ignorar esse aspecto não é apenas antiético, é arriscado, pode gerar impactos financeiros e legais graves para as companhias”, lembra.
Ana Lisboa relembra que o Brasil é o país com maior número de casos de ansiedade da América Latina, somando cerca de 19 milhões de pessoas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Para a especialista, decisões que desprezam esse cenário aprofundam uma crise silenciosa. “Empresas que apostam apenas no controle colhem silêncio, adoecimento e processos. As que investem em liderança emocional colhem engajamento, resultados sustentáveis e legado”.
Por Ana Lisboa
Psicanalista, professora e CEO do Grupo Altis. Fundadora da UniAltis, universidade reconhecida pelo MEC e dedicada à saúde emocional nas empresas. Advogada, mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Autónoma de Lisboa, pós-graduada em Neurociências, Psicologia Positiva, Direito do Trabalho e especialista em Terapia de Casais. Líder do Movimento Feminino Moderno.
Artigo de opinião