Protegendo a Infância: Como Combater a Violência Silenciosa Dentro de Casa
Entenda os sinais invisíveis do sofrimento infantil e a importância do acolhimento emocional para transformar realidades
A violência contra crianças e adolescentes é um tema que permanece urgente e preocupante, especialmente quando ocorre dentro do ambiente doméstico, que deveria ser o espaço mais seguro para o desenvolvimento infantil. Dados recentes do Atlas da Violência 2025 revelam que a residência é o local predominante das agressões, muitas vezes invisíveis e naturalizadas sob o pretexto equivocado de “educação”.
Essa naturalização da violência doméstica precisa ser urgentemente desconstruída. A agressão sofrida por crianças não se limita ao aspecto físico; ela é também emocional, simbólica e estrutural. Muitas vezes, os agressores são pessoas próximas, responsáveis pelo cuidado, o que torna o sofrimento ainda mais silencioso e difícil de ser identificado. Crianças e adolescentes, ainda sem a capacidade de nomear ou compreender plenamente suas dores, internalizam esse sofrimento, o que pode gerar consequências profundas e duradouras.
Para romper esse ciclo, é essencial criar ambientes emocionalmente seguros, baseados na escuta ativa — ouvir com o coração antes de interpretar com a razão — e priorizar o acolhimento e o apoio genuíno. É fundamental que adultos atentos percebam o que não é dito explicitamente e se disponham a perguntar: “o que está doendo aí dentro?”. A sensibilidade para além do óbvio pode ser a chave para que a criança se sinta vista e amparada.
Os sinais de sofrimento emocional nem sempre são evidentes. Comportamentos como silêncio repentino, mudanças no traço dos desenhos, brincadeiras agressivas, alterações no sono e apetite, regressões, explosões de raiva, desculpas frequentes para faltar às aulas ou apatia devem ser observados com atenção. A ajuda de profissionais como psicopedagogos, psicólogos ou terapeutas é fundamental para interpretar essas manifestações e oferecer suporte adequado.
É importante destacar que a forma de expressão do sofrimento pode variar entre meninas e meninos. Enquanto as meninas tendem a internalizar emoções como culpa, tristeza e retraimento, os meninos frequentemente externalizam com agressividade, impulsividade e irritação. Reconhecer essas diferenças é crucial para uma intervenção eficaz.
A exposição à violência pode causar danos devastadores, incluindo perda da confiança básica, prejuízos na memória, atenção e na capacidade de estabelecer vínculos. Esses impactos emocionais podem desencadear transtornos de ansiedade, depressão, dificuldades de aprendizagem e até automutilação. Além disso, a criança ferida pode carregar essas marcas na vida adulta, por vezes assumindo o papel de agressor, perpetuando o ciclo de violência.
A violência contra crianças não escolhe classe social e seu enfrentamento é responsabilidade de toda a sociedade. É imprescindível que os canais oficiais de denúncia, como o Disque 100, o Conselho Tutelar e o Ministério Público, sejam acionados sempre que necessário. Instituições como escolas, postos de saúde, igrejas e comunidades também desempenham papel fundamental como pontos de atenção, acolhimento e encaminhamento.
Combater a violência silenciosa dentro de casa é um desafio coletivo que exige sensibilidade, coragem e ação concreta para garantir que a infância seja protegida e respeitada em sua plenitude.
Por Elenice Cóstola
Artigo de opinião