O que realmente importa para a felicidade no trabalho além do salário
Propósito, pertencimento e progresso são os pilares essenciais para o bem-estar profissional e a motivação sustentável
Com o avanço dos casos de burnout e a judicialização crescente, a discussão sobre felicidade no trabalho deixou de ser periférica e passou a ocupar o centro das preocupações de empresas e trabalhadores. Dados da WTW mostram que 23% dos trabalhadores relatam níveis elevados de estresse relacionados ao trabalho, o que está diretamente ligado ao bem-estar físico, emocional e financeiro.
Além disso, as ações trabalhistas por burnout cresceram 14,5% entre janeiro e abril de 2025, com pedidos de indenização que somam um passivo de R$ 3,75 bilhões para as empresas, segundo levantamento recente do escritório Trench Rossi Watanabe.
Apesar da relevância, o tema ainda costuma ser tratado de forma superficial, limitado a benefícios como ambientes descontraídos ou eventos pontuais. Essa é uma visão restrita. Felicidade no trabalho não é sobre mesa de sinuca ou café gourmet. Também não se resume à ideia de “fazer o que ama”, já que a maioria das pessoas não teve esse luxo. O que se busca, na prática, é um ambiente em que seja possível trabalhar sem adoecer e com perspectiva de crescimento.
A psicologia organizacional identifica três fatores centrais para o bem-estar no trabalho: propósito, pertencimento e progresso. Propósito é perceber relevância no que se faz. Pertencimento está ligado a integrar uma equipe em que há respeito e cooperação. Já o progresso envolve aprender, evoluir e ser reconhecido, inclusive financeiramente.
A ausência de um desses elementos tende a impactar diretamente a motivação e a saúde do profissional. Mas isso não significa que apenas trabalhos criativos ou de alta remuneração podem trazer satisfação. Há quem atue por anos em funções operacionais e se sinta realizado porque entende a importância do próprio trabalho. Em contrapartida, há executivos em posições de prestígio que enfrentam frustração pela falta de clareza sobre seu papel ou pela ausência de perspectivas de evolução.
Outro ponto relevante está na qualidade das relações dentro da empresa. O ambiente de trabalho é determinante. Locais que incentivam cooperação, escuta e reconhecimento favorecem a permanência e o engajamento. Já contextos com ausência de diálogo ou práticas desrespeitosas acabam enfraquecendo qualquer esforço de motivação.
Para quem não pode mudar de emprego imediatamente, recomenda-se movimentos graduais, como fortalecer conexões dentro da equipe, buscar aprendizado contínuo e desenvolver competências valorizadas. Pequenas iniciativas podem reposicionar o profissional e abrir portas no médio prazo, seja dentro da própria organização ou em futuras transições de carreira.
No que diz respeito à remuneração, sua relevância é inegável, mas ela não é o único elemento. O salário é essencial, claro, mas o que sustenta a motivação é perceber que o esforço atual contribui para construir algo melhor no futuro. Não se trata de estar feliz todos os dias, mas de saber que há um sentido por trás da rotina.
Ao mesmo tempo em que os processos por burnout crescem e o estresse se torna uma das principais queixas dos trabalhadores, repensar propósito, pertencimento e progresso deixa de ser apenas uma questão de engajamento — e passa a ser uma estratégia de sustentabilidade para empresas e carreiras.
Por Virgilio Marques dos Santos
Sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria, gestor de carreiras, PhD, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp, Master Black Belt pela Unicamp, autor do livro "Partiu Carreira", TEDx Speaker, ex-professor de cursos de pós-graduação e especialização na Unicamp e outras instituições, ex-gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas, idealizador do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica
Artigo de opinião