Segurança no uso do contraste iodado em tomografias: um alerta necessário
A tragédia recente evidencia a importância de protocolos rigorosos para prevenir reações adversas e garantir a segurança do paciente
A morte de uma jovem de 22 anos durante uma tomografia em Santa Catarina acendeu um alerta: mesmo exames comuns podem envolver riscos. O caso expôs a necessidade de reforçar protocolos de segurança no uso do contraste iodado, substância essencial em diagnósticos médicos. A tomografia é um exame amplamente utilizado e muito importante para diagnósticos precisos, já que é capaz de fornecer imagens detalhadas do corpo através de raios X. No entanto, o contraste iodado, utilizado em alguns protocolos, pode causar reações graves.
A pergunta que surge é: por que utilizar o contraste iodado se há a possibilidade de realizar a tomografia sem contraste? O contraste é fundamental para destacar vasos sanguíneos, órgãos e tecidos, permitindo ao médico identificar tumores, hemorragias, aneurismas e inúmeras condições que não seriam visíveis sem esse recurso.
É, portanto, uma ferramenta diagnóstica insubstituível em muitos casos. É comum que, ao receber o contraste, o paciente sinta um gosto metálico ou uma sensação de frio no braço durante a injeção. Em raros casos, cerca de 0,6%, podem ocorrer reações leves, como náusea ou coceira. Já as reações graves, como o choque anafilático, são ainda mais incomuns, atingindo aproximadamente 0,04% dos pacientes.
É por isso que, antes de qualquer exame, existe o termo de consentimento informado, no qual os riscos são explicados ao paciente. Também se realiza uma triagem cuidadosa do histórico clínico, identificando alergias e condições de saúde que possam aumentar a probabilidade de reações adversas. Pacientes alérgicos a frutos do mar, por exemplo, devem relatar essa informação, já que a alergia pode estar associada ao iodo. Em casos assim, a equipe pode lançar mão de medidas preventivas, como a pré-medicação com corticosteroides e anti-histamínicos, além de manter-se preparada para agir rapidamente diante de qualquer complicação.
O preparo da equipe e do ambiente hospitalar é decisivo. Nenhum exame com contraste deve ser feito sem que haja à disposição adrenalina, anti-histamínicos, corticosteroides, oxigênio e materiais de suporte avançado de vida. O treinamento das equipes deve incluir a identificação precoce dos sinais de reação e a resposta imediata. Afinal, em um choque anafilático, segundos podem significar a diferença entre a vida e a morte.
As diretrizes internacionais apontam a adrenalina intramuscular como o tratamento de primeira linha, sendo indispensável que profissionais estejam prontos para aplicá-la sem hesitação. Além disso, recomenda-se que o paciente seja observado por pelo menos vinte minutos após a injeção do contraste, justamente porque quase todas as reações graves ocorrem nesse intervalo.
A tragédia em questão não deve servir como justificativa para desqualificar ou abandonar o uso da tomografia com contraste, pelo contrário: deve nos lembrar que a tecnologia salva milhares de vidas diariamente e que o verdadeiro desafio está em seguir com rigor os protocolos de segurança, aprimorar continuamente as práticas de prevenção e manter uma comunicação clara e empática com os pacientes. Cada reação adversa, especialmente as mais graves, deve ser documentada, analisada e transformada em aprendizado para que episódios semelhantes não voltem a acontecer.
A morte de uma jovem durante um exame não pode ser vista como um evento inevitável, mas como um alerta doloroso. Como profissionais da saúde e como sociedade, temos a responsabilidade de garantir que ciência, preparo técnico e humanização caminhem juntos. Só assim conseguiremos honrar não apenas a memória de quem partiu, mas também o compromisso ético de tornar as práticas profissionais em saúde cada vez mais seguras e confiáveis.
Por Evelyn Rosa de Oliveira e Dimas de Almeida Araújo
Evelyn Rosa de Oliveira é tecnóloga em Radiologia, mestre em Engenharia Biomédica e professora da Escola Superior de Saúde Única da Uninter; Dimas de Almeida Araújo é bacharel em Enfermagem, especialista em Enfermagem e Saúde Pública e professor da Escola Superior de Saúde Única da Uninter
Artigo de opinião