Cresce o alerta sobre riscos e erros técnicos na depilação a laser no Brasil
Popularização do procedimento revela falhas na formação profissional e aumenta casos de queimaduras, manchas e processos judiciais
A depilação a laser se tornou um dos procedimentos estéticos mais populares no Brasil, impulsionada pela promessa de praticidade, durabilidade e queda nos preços. O que poucos sabem é que, por trás da popularização acelerada, há um crescimento proporcional de erros técnicos, queimaduras de segundo grau, manchas irreversíveis e ações judiciais contra clínicas e profissionais.
Segundo estimativas do setor, mais de 2,5 milhões de brasileiros já passaram pelo procedimento, e a expectativa é que esse número dobre na próxima década. Um levantamento da RB Investimentos projeta que o segmento movimente mais de R$ 30 bilhões até 2036. Mas o avanço expõe a falta de exigência mínima de formação técnica para quem opera lasers estéticos.
“O que temos hoje é um mercado completamente desregulado. Pessoas operando equipamentos potentes sem qualquer preparo, com aparelhos sem registro na Anvisa, e aplicando protocolos genéricos, sem diagnóstico individual. O resultado disso? Pele queimada, mancha, dano emocional, processo judicial. E isso tem se tornado rotina”, alerta Gabriela Fachini, fisioterapeuta, esteticista cosmetóloga e especialista na capacitação de profissionais da área.
Embora seja classificado como procedimento estético, o uso de laser em pele exige conhecimento técnico sobre fototipos, cicatrização, parâmetros de disparo e resposta inflamatória. A aplicação incorreta pode provocar desde foliculite severa até queimaduras e hiperpigmentações permanentes.
O problema é agravado por três fatores:
– Cursos rápidos e sem critério técnico, que ensinam a operar máquinas sem abordar riscos ou individualização do paciente.
– Equipamentos de baixo custo, muitas vezes importados e sem certificação da Anvisa.
– Profissionais sem formação adequada em anatomia, fisiologia ou biossegurança.
“O público acredita que está em um ambiente seguro, mas muitas vezes é atendido por quem não tem nenhuma formação em anatomia, fisiologia ou biossegurança. Essa falsa sensação de segurança é o que mais preocupa”, afirma Gabriela.
De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o setor de Saúde, Beleza e Bem-Estar movimentou R$ 47 bilhões em 2023, com crescimento de 16,2% em relação ao ano anterior. Redes especializadas já ultrapassaram 6 milhões de atendimentos no país, o que reforça a urgência da discussão sobre qualidade e segurança.
Dados do IBGE apontam que o Brasil possui mais de 1 milhão de profissionais da estética, e estimativas internas indicam que entre 150 mil e 200 mil atuem com depilação a laser, direta ou indiretamente. Em contrapartida, não existe um órgão nacional que regule a atividade, nem critérios técnicos padronizados sobre quem pode aplicar o laser, com qual formação mínima, usando quais protocolos.
Diante do cenário, profissionais da área anunciaram a criação da ABRAED – Associação Brasileira de Epilação Definitiva, com o objetivo incentivar a exigência de formação qualificada; oferecer suporte técnico contínuo às profissionais; promover atualizações constantes com base em evidências científicas e até mesmo criar um selo de boas práticas reconhecido pelo setor.
A Associação surge como desdobramento do evento Valiosas Experience, realizado em São Paulo em agosto, que reuniu especialistas de várias regiões do país para discutir a qualificação profissional mais séria e ética.
“O que a gente está propondo com a ABRAED não é criar burocracia. É oferecer um ponto de referência técnica num setor que cresce mais rápido do que é capaz de se organizar. A depilação a laser precisa ser tratada como um ato clínico, não como venda de sessão em pacote promocional”, finaliza Gabriela Fachini, idealizadora e presidente da Associação.
Por Camila Augusto
Jornalista responsável (Mtb.: 43.056)
Artigo de opinião