A Escolha da Escola na Educação Infantil: Impactos na Saúde Emocional da Criança
Como decisões criteriosas na primeira fase escolar podem fortalecer vínculos, promover o aprendizado e garantir o bem-estar emocional dos pequenos
O ingresso na Educação Infantil marca uma fase de transição no desenvolvimento da criança, e a escolha da escola nesse momento pode influenciar seu percurso emocional. Um estudo da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, aponta que experiências estressantes durante a formação do cérebro aumentam em 40% o risco de transtornos de ansiedade na vida adulta. Em contrapartida, desafios “moderados” entre os 6 e 12 anos contribuem para a construção da resiliência. Para Vivian Alboz, doutora em Educação e diretora pedagógica da Educação Infantil na Unidade Vila Nova Conceição da Escola Lourenço Castanho, essa etapa precisa ser acolhedora, pois as vivências nela construídas sustentam o aprendizado, os vínculos e decisões futuras.
Ela reconhece que escolher uma escola não é tarefa simples e ressalta que o desafio se intensifica na Educação Infantil. “Além de influenciar as memórias que serão construídas desse período, a decisão envolve a confiança da família. Por isso, a família precisa ser criteriosa ao conhecer as escolas, seus profissionais e espaços, já que a maioria das crianças ainda não possui a oralidade desenvolvida e não conseguirá relatar o que vivencia. Saber que a decisão foi tomada com critério e alinhamento de princípios é fundamental”, explica Vivian.
Em vista disso, a clareza dos familiares e o perfil da criança são pontos centrais no processo de escolha. “É importante que a família conheça as características e o estilo de aprendizagem de seu filho, como mais ativa, observadora, sensível, curiosa, para depois visitar a escola e observar as práticas pedagógicas, visando compreender se proporcionam experiências significativas e condizentes com diferentes perfis”, orienta.
Gabriela Kogachi, diretora pedagógica da Educação Infantil dos Anos Iniciais da Escola Lourenço Castanho – Alto da Boa Vista, acrescenta que a infraestrutura influencia diretamente nesse desenvolvimento e no acolhimento das crianças. “Como concebemos os espaços como educadores, ou seja, ambientes que promovem o aprendizado, estes precisam ser cuidados e organizados para oportunizar situações estimulantes, favorecendo a curiosidade, a investigação, a criatividade e a autonomia”, comenta. Ela enfatiza, ainda, que é importante esclarecer que a segurança não pode ser confundida com ausência de desafios motores, como escaladas e escorregadores. “Mas a presença de educadores para garantir a segurança é fundamental”, complementa.
Profissionais e a presença familiar
A qualificação dos profissionais é outro pilar. Gabriela ressalta que, por muito tempo, a Educação Infantil foi vista como um lugar apenas de cuidados e que a Educação Superior não era exigida. “Mas já se sabe que a qualificação dos profissionais é um dos pilares para garantir um ambiente seguro, acolhedor e significativo para o trabalho de desenvolvimento integral das crianças”, destaca.
Vivian chama a atenção também para a segurança emocional, que depende do dia a dia escolar. “Nada como uma visita dos pais ao espaço físico da escola, observando como adultos e crianças se relacionam, para avaliar se aspectos emocionais estão sendo priorizados”, aconselha Gabriela, reforçando que a presença ativa da família também contribui para a adaptação da criança. “Quando há proximidade e colaboração, forma-se uma rede de apoio entre escola e família. A criança se adapta mais facilmente e esse vínculo fortalece valores e atitudes trabalhados dentro e fora da escola”, completa.
Por fim, Vivian alerta para sinais de adaptação e mudanças de comportamento. Algumas crianças ficam bem por alguns dias, mas após perceberem a rotina, é natural que possam demonstrar um certo cansaço e até uma irritação.
Já os sinais de alerta podem ser choro excessivo, mudanças de humor ou alterações no sono e apetite. “Como se trata de um processo não linear, o diálogo é sempre o melhor caminho para replanejar rotas e ajudar a criança a se desenvolver. Não existe receita, mas o que deve influenciar a decisão é o que melhor se enquadra em cada dinâmica familiar”, finaliza Vivian.
Cinco aspectos que os pais podem observar no momento de escolher uma escola de Educação Infantil:
– Proposta pedagógica alinhada e coerente: a escola deve ter um projeto educativo coerente, fundamentado na legislação e em princípios pedagógicos sólidos;
– Espaço e materiais adequados: ambientes amplos, áreas para o faz de conta, elementos naturais e brinquedos de qualidade adaptados à primeira infância;
– Rotina e jornada compatíveis com o desenvolvimento infantil: tempos para necessidades individuais e interações, evitando que bebês fiquem longos períodos em berços ou em bebês-conforto;
– Qualificação e postura dos profissionais: equipe formada em Pedagogia, com atualização constante, ética e postura respeitosa, promovendo vínculos de confiança;
– Infraestrutura, acolhimento e parceria com a família: ambientes acessíveis à altura das crianças, cuidado e respeito, comunicação clara com as famílias e participação conjunta na educação.
Por Vivian Alboz e Gabriela Kogachi
Vivian Alboz – Doutora em Educação pela PUC-SP, diretora pedagógica da Educação Infantil da Escola Lourenço Castanho; Gabriela Kogachi – Mestranda em Escritura e Alfabetização, pós-graduada em Convivência Ética na Escola, Educação Inclusiva e Psicopedagogia, diretora pedagógica de Educação Infantil e Anos Iniciais da Escola Lourenço Castanho
Artigo de opinião