Peniafobia: o medo irracional de ficar pobre que paralisa vidas

Entenda como a ansiedade financeira pode se transformar em uma fobia debilitante e saiba como enfrentá-la

O nome é estranho e a condição desconhecida pela maioria das pessoas: trata-se da peniafobia, o medo irracional de ficar pobre. Segundo o médico e terapeuta João Borzino, não se trata de uma simples aversão à escassez ou uma preocupação saudável com a estabilidade financeira. “Trata-se de um estado psicológico crônico, alimentado por ansiedade intensa diante da ideia de perder recursos, status ou autonomia. Esse medo vai além da lógica. Ele afeta decisões diárias, distorce prioridades e, em casos extremos, paralisa. Estamos falando de uma fobia com raízes emocionais profundas, capaz de moldar o comportamento humano de forma tão impactante quanto qualquer outro transtorno ansioso”, esclarece.

Borzino explica que a origem da peniafobia, como tantos outros traços disfuncionais, remonta à combinação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. “Do ponto de vista da neurociência comportamental, estudos publicados no American Journal of Psychiatry (2021) revelam que áreas do cérebro relacionadas à resposta de ameaça — como a amígdala e o córtex pré-frontal dorsolateral — se ativam de forma exacerbada em indivíduos com histórico de insegurança financeira crônica”, afirma.

De acordo com o médico, crianças expostas à instabilidade econômica tendem a desenvolver padrões de hipervigilância, conforme relatado em pesquisa longitudinal da Harvard Medical School of Psychiatry (2018). “Elas crescem acreditando que o mundo é um campo minado e que o dinheiro é a única barreira entre elas e a catástrofe. Isso cria adultos que vivem em permanente estado de alerta — mesmo quando suas contas estão em dia”.

João Borzino afirma que peniafobia não é um medo que passa. Ela se infiltra nos hábitos e crenças. Ele listou alguns comportamentos clássicos associados:
• Acúmulo compulsivo de dinheiro, sem jamais se permitir usufruir dele.
• Trabalho obsessivo, mesmo quando há prejuízo à saúde física e mental.
• Paralisia decisória diante de investimentos, gastos e mudanças de carreira.
• Relações sabotadas por disputas financeiras ou desconfiança constante.
• Culpa crônica ao gastar, mesmo com necessidades básicas.

“De acordo com o The Lancet Psychiatry (2020), cerca de 12% da população economicamente ativa em países ocidentais apresenta sintomas compatíveis com fobias financeiras. No Brasil, a Fiocruz e dados compilados pelo SciELO indicam que 7 em cada 10 pessoas relatam sentir ansiedade intensa ao pensar em perder o emprego ou reduzir o padrão de vida — o que pode ser um marcador precoce de peniafobia”.

Ele também deu exemplo de alguns casos reais:
Joana, 38 anos, executiva de marketing em São Paulo, ganha R$ 40 mil mensais. Mora em um apartamento de alto padrão, mas sofre crises de pânico sempre que precisa usar o cartão de crédito. “Tenho medo de ficar pobre como minha mãe. Mesmo sabendo que tenho dinheiro, sinto que a qualquer momento tudo pode acabar.”

Carlos, 55 anos, empresário em Belo Horizonte, é um exemplo do outro extremo. Recusou oportunidades de crescimento para não correr “riscos financeiros”. Vinte anos depois, lamenta o tempo perdido: “Fiquei preso ao medo. Minha vida profissional estagnou porque eu não conseguia tomar decisões com algum nível de incerteza.”

Existe uma solução. Ela começa, de acordo com o especialista, com uma pergunta honesta: o dinheiro controla você?

“Se você:
• vive em estado de alerta mesmo com estabilidade financeira;
• sente culpa ou medo intenso ao gastar;
• toma (ou evita) decisões movido exclusivamente pela insegurança financeira…

… então você pode estar sofrendo de peniafobia”.

Mas o que fazer para vencer o transtorno? O médico responde:
1. Busque diagnóstico clínico: Psicólogos e psiquiatras podem ajudar a diferenciar ansiedade financeira comum de fobia.
2. Terapia cognitivo-comportamental: Ampla evidência — como as revisões publicadas pela Elsevier Health Sciences — confirma que a TCC é eficaz no tratamento de fobias específicas, incluindo as financeiras.
3. Reestruturação de crenças: Investigue a origem do medo. Medo de ser irrelevante? De perder amor ou respeito? O dinheiro raramente é o real inimigo.
4. Educação financeira aliada à terapia: Não basta entender finanças. É preciso entender o que o dinheiro representa emocionalmente para você.

“O medo da pobreza é tão antigo quanto a própria civilização. Mas quando se transforma em fobia, ele deixa de ser um alerta funcional e passa a ser uma prisão invisível. A verdadeira liberdade financeira não começa com a conta bancária — começa com a mente. Você não precisa ser escravo do medo. Identifique o inimigo, confronte-o com coragem e recupere o controle da sua vida”, conclui.

J

Por João Borzino

médico e terapeuta

Artigo de opinião

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