Como a Espiritualidade Afro-Brasileira Transforma a Relação com a Sexualidade e o Prazer

Exu e Pombagira mostram que corpo e fé podem caminhar juntos, ajudando a curar a culpa e a repressão sexual na sociedade brasileira

Em um país em que 40% das mulheres afirmam sentir culpa ao falar de prazer sexual, dado revelado pelo levantamento do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas de São Paulo, tradições espirituais que integram corpo, desejo e fé oferecem caminhos de reconciliação entre a vida íntima e a vida espiritual. Na contramão de crenças que historicamente reprimiram o prazer, o Candomblé reconhece a sexualidade como parte natural e sagrada da existência.

Para Eduardo Elesu, sacerdote de Esù, esse é um dos pontos que mais atraem pessoas que buscam nas religiões afro-brasileiras um espaço de acolhimento. “Exu e Pombagira não falam de pecado, mas de responsabilidade. Eles nos lembram que o corpo é templo, que o desejo é força vital e que a espiritualidade precisa caminhar junto com o prazer, não contra ele”, afirma.

Elesu reforça que a repressão da sexualidade gera consequências que vão além da vida íntima. “Quando alguém passa a vida inteira acreditando que sentir prazer é errado, carrega culpa e vergonha para todas as áreas da vida. Isso adoece relações, afasta a pessoa de si mesma e pode até comprometer sua saúde emocional”, explica.

Segundo o sacerdote, ritos como ebós e trabalhos com entidades ligadas à sexualidade ajudam a transformar essa relação. “Um ebó pode ser tão libertador quanto uma conversa de terapia, porque ele rompe padrões de energia e abre espaço para que a pessoa se veja com mais amor. É um trabalho espiritual que ressoa no corpo e na alma”, acrescenta.

Especialistas em saúde sexual apontam que a repressão histórica da sexualidade, sobretudo feminina, está associada a índices mais altos de ansiedade, depressão e dificuldade de estabelecer relações afetivas saudáveis. Ao oferecer uma visão integrativa, a espiritualidade afro-brasileira tem se tornado, para muitos brasileiros, um caminho de libertação.

“Quando uma mulher acessa Pombagira, ela encontra um reflexo que valida seu desejo, sua voz e sua autonomia. Ela aprende que ser firme, desejar e escolher não é pecado, é potência. Isso é revolucionário em uma sociedade que ainda tenta domesticar o corpo feminino”, reforça Elesu.

No contexto atual, o debate ganha ainda mais relevância, já que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 52% da população mundial enfrenta algum grau de insatisfação sexual. “Reconhecer que espiritualidade e sexualidade andam juntas não é banalizar a fé, mas devolver às pessoas a liberdade de se relacionar com o divino sem medo do próprio corpo”, conclui o sacerdote.

E

Por Eduardo Elesu

sacerdote de Esù, dirigente do Ilê Odé Nlá Axé Alagbará, Oluwo, líder de seu próprio Ilê, reconhecido pela precisão nos Jogos de Búzios, rituais de Ebó, encantamentos e processos iniciáticos

Artigo de opinião

👁️ 51 visualizações
🐦 Twitter 📘 Facebook 💼 LinkedIn
compartilhamentos

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar

Conteúdo Adulto

O conteúdo a seguir é destinado ao público adulto.

Ao escolher sim você está declarando ser maior de 18 anos.

Comece a digitar e pressione o Enter para buscar