Setembro Dourado: a importância vital do diagnóstico precoce no câncer infantojuvenil

Como a atenção de profissionais e educadores pode transformar vidas e reduzir desigualdades no combate ao câncer em crianças e adolescentes

Setembro é o mês do Setembro Dourado, um momento dedicado à conscientização sobre o câncer infantojuvenil. Mas, para mim, essa causa vai muito além de uma campanha anual, é uma missão de vida. Falo como gestora, mas antes disso, como mãe. E é desse lugar que compartilho a urgência do diagnóstico precoce.

Ao longo dos meus 20 anos de Instituto Ronald McDonald, acompanhei de perto a jornada de milhares de famílias. Entendi a luta, a esperança e a dor que marcam essa caminhada. No entanto, teve um episódio que me tocou profundamente, a perda de um amigo próximo do meu filho, vítima de um diagnóstico tardio. Ele começou a sentir dores nas pernas, que a princípio pareciam algo comum, como as “dores do crescimento”. Os sinais, porém, foram se agravando, e a resposta demorou a chegar. Quando finalmente veio, já era tarde. Ver meu filho perder um amigo tão cedo me fez sentir, de forma íntima, a dor que eu já conhecia profissionalmente. Essa experiência transformou para sempre a minha forma de enxergar a urgência dessa causa.

No Brasil, o câncer infantojuvenil é a principal causa de morte por doença entre crianças e adolescentes. Todos os anos, cerca de 8 mil novos casos são diagnosticados. Quando descoberto precocemente, as chances de cura podem chegar a 80%, mas ainda convivemos com uma dura realidade: muitos diagnósticos chegam tarde demais. Isso acontece porque os sintomas são sutis e se confundem com doenças comuns da infância. Uma dor constante nas pernas, uma palidez persistente, ou um cansaço fora do comum podem ser mais do que parecem. O tempo, porém, é um fator determinante. Cada semana perdida pode custar a vida de uma criança.

Foi para enfrentar esse desafio que o Instituto Ronald McDonald criou, em 2008, o Programa Diagnóstico Precoce do Câncer Infantojuvenil. Já capacitamos cerca de 45 mil profissionais e estudantes da saúde em todas as regiões do país. Também sensibilizamos professores da educação básica de mais de 300 escolas públicas, porque sabemos que a escola é um espaço fundamental na vida de uma criança. Aos profissionais de educação, meu apelo: sejam olhos atentos. Muitas vezes, um professor percebe que algo não está bem antes mesmo dos pais. Ao aproximar educadores e profissionais de saúde, conseguimos encurtar o caminho até o diagnóstico.

O impacto desse programa é real. Hospitais que participam da iniciativa conseguiram reduzir o tempo médio entre o surgimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico de 13 para 5 semanas. Para uma criança em tratamento oncológico, essa diferença representa a chance de continuar vivendo, estudando, brincando, sonhando…

Trago também meu olhar de mãe. Sei que a intuição de uma mãe, de um pai, é poderosa. Escuto isso todos os dias: “eu sabia que havia algo errado, mas demoraram a me ouvir”. Por isso, sempre digo que procurar uma segunda ou até terceira opinião é um direito. Precisamos escutar o coração, sentir os sinais e exigir respostas.

Essa luta é uma questão de justiça. No Brasil, ainda temos uma grande desigualdade regional: enquanto no Sul a taxa média de sobrevivência chega a 75%, no Norte não passa de 50%. Essa disparidade mostra que investir em capacitação e estrutura é uma prioridade. O que vi ao longo desses anos é que não basta oferecer tratamento, é preciso garantir o diagnóstico no tempo certo. O Instituto Ronald McDonald continuará a lutar para que nenhuma criança abandone o tratamento ou tenha sua vida abreviada por falta de informação ou acesso.

Como mãe, não desejo que nenhuma outra mãe passe pela dor de perder um filho por um diagnóstico tardio. Como gestora, sigo comprometida em transformar essa realidade, porque sei que cada dia importa. Este Setembro Dourado é um lembrete de que a informação salva vidas, e cada diagnóstico precoce representa uma nova chance de vida.

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Por Bianca Provedel

jornalista, psicóloga, mãe, CEO do Instituto Ronald McDonald, 20 anos de atuação no terceiro setor

Artigo de opinião

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