Os Perigos Ocultos dos Anabolizantes: Quando o Corpo Enfrenta a Bomba Após o Uso

O crescimento do consumo de anabolizantes no Brasil traz riscos graves e muitas vezes irreversíveis à saúde, que vão muito além do período de uso.

O consumo de anabolizantes disparou no Brasil — crescimento de 670% entre 2019 e 2024, segundo levantamento do Valor Econômico e da Anvisa —, mesmo após a proibição para fins estéticos em 2023. Mas o maior perigo nem sempre está durante o uso: quando o efeito passa, o corpo pode enfrentar uma série de colapsos físicos e hormonais, alguns irreversíveis.

Originalmente desenvolvidos para auxiliar na recuperação de massa muscular em pacientes com queimaduras graves, câncer ou desnutrição, os anabolizantes passaram a ser usados por frequentadores de academias, homens e mulheres, para ganho estético e muscular. Porém, o uso prolongado dessas substâncias eleva os riscos de doenças cardiovasculares, problemas no fígado, câncer, infarto, derrame, hipertensão, insuficiência cardíaca, tromboses e até embolia pulmonar.

“Nos homens, podem ocorrer redução dos testículos, infertilidade, perda de cabelo e acne. Nas mulheres, além da queda de cabelo e acne severa, há também o engrossamento da voz, aumento do clitóris e alterações hormonais”, explica o endocrinologista e diretor executivo da startup de saúde e educação médica, G7med, Marcio Krakauer.

Quanto à reversibilidade dos efeitos, o especialista esclarece que isso depende da dose e do tempo de uso. Enquanto alguns sintomas, como oleosidade e acne, podem regredir, doenças cardiovasculares, diabetes e alterações hormonais muitas vezes são permanentes. Krakauer é enfático ao desmentir o mito de que a testosterona possa ser usada para emagrecimento, afirmando que “não há qualquer indicação médica para o uso da testosterona com essa finalidade”.

O aumento de massa magra promovido pelos anabolizantes depende também de alimentação adequada, exercícios de resistência e fatores genéticos. Ao interromper o uso, seja por decisão pessoal, surgimento de efeitos colaterais ou falta de recursos, os ganhos desaparecem rapidamente. O corpo pode entrar em colapso, apresentando sintomas como falta de ar, dor no peito, alterações hepáticas, pressão alta, inchaço nas pernas, queda brusca de desempenho e problemas hormonais severos. Além disso, o uso dessas substâncias pode prejudicar ainda mais quem possui diabetes, interferindo no controle glicêmico e aumentando os riscos de complicações.

O médico destaca ainda que é importante diferenciar a terapia de reposição hormonal (TRH) do uso de anabolizantes para ganho muscular. A TRH é indicada para homens com hipogonadismo e utiliza doses fisiológicas de testosterona, aplicadas por meio de gel ou decanoato. Já os esteróides são usados exclusivamente para ganho de massa muscular e não têm relação com reposição hormonal.

“Diante do crescimento expressivo do consumo e dos riscos à saúde, o alerta é para que o uso de anabolizantes seja sempre acompanhado por profissionais especializados, evitando que a ‘bomba depois da bomba’ comprometa a qualidade de vida dos usuários”, completa.

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Por Marcio Krakauer

Médico Endocrinologista; Fundador e Presidente da ADIABC – Ass. de Diabetes do ABC (1998); Cofundador e Diretor Médico Executivo do G7med

Artigo de opinião

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