Desmame gentil e transição alimentar: um caminho de afeto e respeito entre mãe e filho
Como conduzir o desmame de forma gradual e consciente, fortalecendo vínculos e promovendo o bem-estar da criança e da mãe
O desmame é um dos momentos mais delicados da maternidade e exige cuidado, paciência e conexão entre mãe e bebê. Para a enfermeira obstetra e especialista em maternidade Dra. Cinthia Calsinski, o processo deve ser conduzido de maneira gradual, respeitosa e baseada nas necessidades reais da criança e da mãe.
Segundo Cinthia, a introdução alimentar, que ocorre a partir dos seis meses, já marca o início natural do desmame. “A partir desse momento, o bebê passa a intercalar mamadas com refeições, dando início a uma transição gradual. O desmame gentil é exatamente isso: uma passagem lenta e respeitosa entre o aleitamento e a alimentação sólida, sem rupturas bruscas que possam gerar insegurança ou sofrimento emocional”, explica.
Entre os cuidados mais importantes estão o respeito ao ritmo da criança, a observação dos sinais de interesse pelos alimentos e a substituição progressiva das mamadas por outras formas de acolhimento e vínculo. “Se o bebê mamou e vai sentar para comer logo em seguida, é natural que não demonstre interesse. O ideal é equilibrar a livre demanda com o bom senso, garantindo que a criança chegue à refeição aberta a novas experiências de sabores e texturas”, orienta.
Cinthia reforça que o desmame não deve se resumir à retirada do peito, mas sim à criação de novos vínculos. “Se antes a amamentação era usada como consolo quando a criança caía ou estava com sono, esse momento pode ser substituído por afeto, histórias, colo, cafuné ou brincadeiras. A criança precisa sentir que continua recebendo o cuidado e a conexão, mesmo sem o seio materno”, destaca.
Outra dica da especialista é estabelecer locais e rotinas para a amamentação, o que ajuda a criança a entender a transição sem sentir a negação. “Se o mamá acontece sempre na poltrona, por exemplo, fica mais fácil explicar que naquele momento, fora de casa, o mamá ficará para depois. Em vez do ‘não’, trabalhamos com o ‘mais tarde’, o que torna o processo mais suave para todos”, acrescenta.
O desmame abrupto, segundo Cinthia, pode ser prejudicial tanto para o bebê quanto para a mãe. “Além do impacto emocional na criança, o corpo da mãe continua produzindo leite em ritmo acelerado, o que aumenta o risco de ingurgitamento, empedramento e mastite. Já o desmame gradual protege ambos e favorece uma adaptação saudável”, explica.
Para Cinthia, o segredo do desmame gentil é a amorosidade. “Mais do que tirar o peito, é oferecer alternativas de vínculo, afeto e presença. Quando feito com respeito e consciência, esse processo se transforma em um marco positivo na relação entre mãe e filho”.
Por Dra. Cinthia Calsinski
enfermeira obstetra, consultora internacional de lactação certificada pelo IBCLC (L-304362), consultora do sono materno-infantil pelo International Parenting and Health Institute, educadora parental pela Positive Discipline Association
Artigo de opinião