Dia de Combate ao Fumo (29/08) traz alerta para outros produtos perigosos, além do cigarro convencional

Dados do Ministério da Saúde mostram crescimento de 25% no número de fumantes entre 2023 e 2024. Tabaco é responsável por mais de 174 mil mortes por ano

No próximo dia 29 de agosto é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo, data para reforçar a conscientização da população sobre os malefícios do tabagismo e promover a reflexão sobre os benefícios de abandonar o vício. Em maio deste ano, o Ministério da Saúde divulgou que, pela primeira vez desde 2007, o Brasil registrou um aumento significativo no número de fumantes. Os dados mostraram um crescimento de 25% no número de fumantes entre 2023 e 2024. Segundo o governo, o tabagismo gera um custo anual de R$ 153 bilhões ao Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto os impostos arrecadados com a venda de cigarros representam apenas 5% desse montante. No Brasil, o tabaco é responsável por mais de 174 mil mortes por ano, sendo 55 mil decorrentes de câncer. Globalmente, a Organização Mundial da Saúde estima que o tabagismo cause oito milhões de mortes anualmente.

A enfermeira Alessandra Clume Ferreira, professora do curso de Enfermagem da Estácio, lembra que a dependência da nicotina é poderosa e que a indústria do tabaco investe constantemente para manter e ampliar seu mercado. Ela reforça que o Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional de Câncer (INCA), oferece tratamento gratuito para quem deseja parar de fumar, com acompanhamento profissional e apoio especializado.

“O processo de parar de fumar envolve três etapas principais: preparo, enfrentamento da abstinência e manutenção da decisão. O primeiro passo é acreditar que é possível. Depois, é preciso planejar: escolher a data para parar, identificar os momentos de maior vontade de fumar e substituí-los por hábitos mais saudáveis”, orienta Alessandra.

A enfermeira dá algumas dicas importantes para este processo:
-Acredite que é possível e estabeleça uma data para parar;
-Planeje-se para lidar com momentos de maior vontade de fumar;
-Aceite o desafio inicial: sintomas como ansiedade e irritação tendem a desaparecer mais rápido do que se imagina;
-Valorize cada conquista: cada dia sem fumar é um passo para respirar melhor, sentir mais sabor e viver mais tempo.

O tratamento oferecido pelo SUS inclui apoio em grupo, materiais educativos e, quando necessário, medicamentos gratuitos. “Tudo para que a pessoa tenha força e segurança nessa jornada. E se houver recaída, não significa fracasso. Recomeçar também é parte da vitória”, conclui Alessandra.

Sachês de nicotina: aumento de uso entre jovens é preocupante

Não é só o cigarro tradicional que vem causando preocupação aos sistemas de saúde. Uma revisão de estudos internacionais revelou que os sachês de nicotina — comercializados como substitutos do cigarro por não conterem tabaco — podem causar sérias lesões na mucosa oral, inflamações gengivais e alterações na microbiota bucal. Colocado na boca, entre o lábio e a gengiva, o produto solta aos poucos nicotina, que é absorvida pela mucosa.

A pesquisa alerta para o aumento do uso desses produtos, especialmente entre jovens brasileiros, e reforça que a ausência de regulamentação no país contribui para a falsa sensação de segurança.

A cirurgiã-dentista e doutoranda em Odontologia, Rafaela Baesso, observa: “Os sachês de nicotina são amplamente comercializados internacionalmente, sendo promovidos como alternativas ao tabaco tradicional. A divulgação é maciça com slogan sem tabaco em sua composição, o que gera uma falsa impressão de menor risco à saúde. Mas na verdade, depende da fórmula utilizada,” explica.

No Brasil, esses produtos ainda não possuem regulamentação legal e são frequentemente importados sem registro sanitário. Conhecidos como “snus” — entre outras nomenclaturas utilizadas, muitas vezes de forma proposital para reforçar a ideia de serem mais saudáveis — podem ser produzidos tanto com nicotina sintética (sintetizada em laboratório) quanto com nicotina derivada do tabaco (extraída da planta). “Ambas apresentam a mesma estrutura molecular e produzem efeitos fisiológicos semelhantes na cavidade oral, incluindo ações vasoconstritoras, imunossupressoras e inflamatórias, além do potencial de dependência e do risco de provocar lesões locais”, acrescenta Rafaela, que é professora do curso de Odontologia da Estácio.

Evidências científicas preocupantes

Segundo a especialista, um dos principais achados das pesquisas é o desenvolvimento de lesões brancas e ulceradas nas mucosas orais. Uma revisão sistemática publicada em 2024 pelo pesquisador Dulyapong Rungraungrayabkul, no periódico Frontiers in Oral Health, analisou três estudos com aproximadamente 190 usuários de sachês e identificou a ocorrência de lesões variando de enrugamentos a placas brancas, associadas à frequência e duração do uso. Também foram relatados sintomas como xerostomia (boca seca), dor e formação de bolhas gengivais.

Rafaela ressalta que, devido ao risco de perfil inflamado exacerbado e contínuo, existe um potencial carcinogênico associado ao uso. “Embora os sachês contenham menos nitrosaminas do que o tabaco convencional, ainda podem apresentar traços de alcaloides derivados do tabaco, cromo e formaldeído, além dos efeitos tóxicos da própria nicotina e de flavorizantes sintéticos. Lesões brancas crônicas e inflamações persistentes têm sido relacionadas ao aumento de biomarcadores como IL-6, IL-8 e LRG1, que podem estar associados a maior risco de transformação em lesões pré-cancerosas. Os dados ainda são preliminares, mas preocupantes”, afirma.

Com base na literatura atual, a professora é categórica: “Embora comercializados como ‘livres de tabaco’, os sachês de nicotina não são inofensivos à saúde bucal. O uso localizado e contínuo pode provocar lesões mucosas, inflamação e retração gengival, além de potencial carcinogênico em organismos suscetíveis, sobretudo em uso crônico. É fundamental conscientizar a população, especialmente os jovens, sobre esses riscos”, orienta.

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