Burnout no Brasil: o perigo do retorno ao trabalho sem reabilitação completa
Retornar às atividades sem tratar as causas emocionais do burnout aumenta o risco de recaídas e cronificação da síndrome, alerta especialista
O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de burnout, segundo a International Stress Management Association (ISMA-BR). Apesar disso, cerca de 30% dos profissionais afastados pela síndrome retornam ao trabalho sem reabilitação plena, o que favorece recaídas e a cronificação do quadro, afirma o psicólogo Jair Soares dos Santos, fundador do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas (IBFT) e criador da Terapia de Reprocessamento Generativo (TRG).
Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como síndrome ocupacional desde 2022, a doença resulta do estresse crônico não administrado adequadamente no ambiente de trabalho. A condição se manifesta por exaustão extrema, distanciamento mental das atividades e queda no desempenho. Pesquisas indicam que, além de afetar o estado emocional, pode causar distúrbios hormonais, insônia e dores persistentes, dificultando a recuperação.
Um levantamento divulgado pela ISMA-BR no fim de 2023 aponta que 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem da síndrome, enquanto 72% relatam sentir estresse no trabalho. O país está atrás apenas do Japão no ranking global. “O burnout não é apenas um episódio de cansaço extremo. É resultado de sobrecarga emocional, expectativas irreais e ausência de pausas reais. Tratar apenas os sintomas é ignorar a raiz do problema”, afirma Soares.
De acordo com a OMS, o Brasil está entre os países com maiores índices de afastamento por transtornos mentais e comportamentais. O risco, segundo o especialista, é que, sem intervenção estruturada, o trabalhador repita o padrão que levou ao colapso inicial. “Quando não se reprocessa a causa emocional, o organismo permanece em estado de alerta, e qualquer nova pressão pode reacender o quadro”, explica o psicólogo.
Desenvolvida por Jair Soares, a TRG é aplicada em diferentes contextos laborais e propõe identificar e neutralizar gatilhos emocionais por meio de protocolos que revisitam, de forma segura, memórias e experiências associadas ao esgotamento. “Não se trata de ensinar resiliência, mas de liberar o peso emocional acumulado. Ao reprocessar essas memórias, corpo e mente recuperam a capacidade de se autorregular”, completa.
Especialistas recomendam que o retorno ao trabalho seja gradual, com acompanhamento terapêutico e suporte corporativo. Pesquisas internacionais, como as publicadas pelo Journal of Occupational Health Psychology, indicam que a reorganização de demandas, programas de saúde e políticas que favoreçam pausas reais reduzem o risco de recaídas.
“Produtividade sem pausa cobra um preço alto. Quando o burnout não é tratado na raiz, ele volta, e muitas vezes, mais intenso. O descanso não é luxo, é parte essencial da cura”, conclui Jair Soares.
Por Jair Soares dos Santos
Psicólogo, terapeuta, hipnólogo, pesquisador e professor; fundador do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas (IBFT); criador da Terapia de Reprocessamento Generativo (TRG); graduação em Psicologia pela Faculdade Integrada do Recife; especializações em hipnoterapia e análise comportamental; doutorando em Psicologia pela Universidade de Flores (UFLO), Argentina.
Artigo de opinião