Quando e por que vale a pena trocar de faculdade no meio do curso

Entenda os sinais de alerta, os impactos das escolhas e como planejar uma transferência para garantir uma formação alinhada aos seus objetivos

Mais de 50% dos alunos do presencial abandonam a faculdade antes do diploma e no EAD a evasão chega a 63,7% (Semesp). A graduação nem sempre corresponde às expectativas e muitos estudantes ficam presos à dúvida: vale a pena mudar de curso no meio do caminho?

Você começou a graduação recentemente, mas já se pergunta se fez a escolha certa? A dúvida é mais comum do que parece. Dados do Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior) mostram que mais da metade dos estudantes de cursos presenciais desiste antes da formatura. No ensino a distância, o índice é ainda mais alto: 63,7%.

No início da vida universitária, é natural passar por um período de descobertas e dúvidas. O problema é quando a frustração vira rotina, o rendimento cai e o interesse pela profissão simplesmente desaparece.

Em muitos casos, insistir em um caminho que não faz mais sentido pode sair mais caro — em tempo, dinheiro e saúde mental — do que recomeçar em outra instituição.

Apesar disso, mudar de faculdade ainda carrega certo estigma. Há quem veja a decisão como fracasso ou perda de tempo. Mas, na prática, a transferência pode ser um movimento estratégico, especialmente quando há sinais concretos de desalinhamento entre o curso e os objetivos do aluno.

Sinais como infraestrutura deficiente, falta de aulas práticas, grade curricular desatualizada ou ausência de professores atuantes no mercado costumam estar entre os mais citados por quem se frustra.

Uma pesquisa da Global Education Monitor 2024 revelou que apenas 26% dos brasileiros avaliam positivamente o sistema educacional. Entre os problemas mais apontados: acesso desigual, falta de financiamento, equipamentos defasados e pouco preparo dos docentes.

Para Laís Lopes, mestre pela USP e coordenadora pedagógica do Instituto Orofacial das Américas (IOA), um bom curso precisa equilibrar teoria, prática e atualização de mercado.

“Na área da saúde, por exemplo, é essencial que o aluno tenha contato com técnicas modernas e recursos como modelos anatômicos reais. Sem isso, o aprendizado fica incompleto e o início da carreira se torna mais difícil”, afirma.

Esse descompasso entre formação e realidade também aparece nos números. Segundo levantamento do Semesp, apenas um terço dos egressos em odontologia consegue emprego formal em até um ano após a graduação, e quase metade se diz despreparada para atuar.

E quando o curso parece promissor, mas a instituição decepciona? É o que acontece, por exemplo, com estudantes que ingressam em faculdades promissoras, mas se deparam com atrasos no cronograma, aulas genéricas ou ausência de suporte.

Em cursos exigentes como odontologia, onde o contato com a prática desde cedo faz toda a diferença, essa frustração pode ser decisiva. A falta de professores especialistas, laboratórios equipados e estrutura clínica também pesa.

Em casos assim, a transferência pode abrir portas para um recomeço mais sólido. Mas ela exige planejamento.

O primeiro passo é entender como funciona o processo: cada instituição tem regras próprias, mas em geral é possível aproveitar parte das disciplinas já cursadas, desde que a carga horária e os conteúdos sejam compatíveis. Também é importante verificar se o calendário permite entrada no meio do ano e se há vagas disponíveis.

Ao considerar a mudança, vale observar alguns critérios práticos:
– Estrutura da nova instituição (laboratórios, biblioteca, clínicas);
– Atualização da grade curricular e presença de disciplinas práticas;
– Perfil do corpo docente;
– Reputação no mercado e inserção de ex-alunos;
– Compatibilidade entre grades, para evitar retrabalho.

A mudança pode até gerar certa ansiedade no início, mas quando bem avaliada, costuma se traduzir em maior engajamento, motivação e clareza de propósito. Em vez de “perder tempo”, o aluno recupera o controle da própria formação.

Um novo curso pode abrir caminhos mais coerentes com o perfil e os objetivos do estudante. Às vezes, a insatisfação com o curso atual revela apenas uma inadequação de trajetória, e não um desinteresse pela graduação como um todo.

Na odontologia, por exemplo, é comum que alunos percebam, ao longo do primeiro ano, que estão num curso excessivamente teórico, com pouca ou nenhuma exposição clínica.

Outros percebem que não se identificam com a linha pedagógica da instituição ou que preferem um modelo mais moderno e alinhado ao mercado estético, digital ou cirúrgico.

Com o crescimento do setor — só o mercado de estética deve movimentar mais de US$ 41 bilhões no Brasil até 2028, segundo a Mordor Intelligence —, instituições que oferecem formação conectada a essas tendências se tornam ainda mais atraentes.

A dúvida sobre mudar de faculdade costuma vir acompanhada de receios: vou perder tempo? Vou ter que refazer tudo? E se me arrepender? Na prática, quando a decisão é tomada com consciência, os ganhos superam os obstáculos.

Disciplinas compatíveis costumam ser aproveitadas. A matrícula pode ser feita no meio do ano, desde que a nova instituição tenha vagas. E o aluno, ao invés de seguir num curso sem perspectiva, passa a construir uma trajetória com mais sentido.

Trocar de faculdade não é uma derrota. É, muitas vezes, um ato de coragem e maturidade. Reconhecer que algo não está funcionando e buscar uma alternativa melhor é o primeiro passo para uma carreira mais alinhada com os próprios valores, interesses e ambições.

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Por Maria Rita Coutinho

Jornalista

Artigo de opinião

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