Igualdade Feminina: Da Celebração à Construção de Estruturas Reais
Por que a presença das mulheres em cargos de liderança no Brasil ainda enfrenta barreiras invisíveis e como a verdadeira equidade depende de mudanças estruturais nas empresas
Hoje, dia 26 de agosto, celebramos o Dia Internacional da Igualdade Feminina. Mas o verbo “celebrar” parece destoar da realidade que os números revelam. O Panorama Mulheres 2025, realizado pela Talenses em parceria com o Insper, expõe de forma contundente uma verdade incômoda: a presença feminina em cargos de liderança no Brasil segue estagnada e, em alguns casos, regredindo.
Apenas 17,4% das empresas com presidência formalizada são lideradas por mulheres. Nos conselhos de administração, 57,4% ainda não contam com uma única mulher entre os membros. E nos cargos de vice-presidência, a presença feminina caiu de 34% para 20% em apenas dois anos. Esses números são alarmantes, mas mais do que isso: são um reflexo direto da forma como a equidade de gênero é tratada nas organizações: como símbolo, e não como estrutura.
Durante anos, normalizamos a ausência de mulheres em espaços de decisão como se fosse resultado de meritocracia. Mas a verdade é que há um conjunto de barreiras estruturais invisíveis, e muitas vezes inconscientes, que limitam o acesso das mulheres ao poder real. Isso vai desde vieses nas avaliações de desempenho até a falta de políticas que respeitem as múltiplas jornadas femininas. Precisamos romper com essa lógica de escassez e construir ambientes onde todas as vozes possam liderar de forma autêntica.
Ao longo de mais de três décadas atuando em grandes empresas, e agora como fundadora da Gestão e Design de Impacto, tenho acompanhado de perto os desafios e também as oportunidades que surgem quando escolhemos integrar diversidade, inclusão e ESG como partes estruturantes da estratégia. E digo com clareza: empresas que tratam essas pautas como “bônus” seguem atrasadas em relação às demandas do presente.
Diversidade é performance. Inclusão é inovação. Sustentabilidade começa nas relações humanas.
Quando falamos em ESG, precisamos parar de tratar o “S” como um apêndice. ESG não é uma sigla isolada, nem um plano de marketing. É um sistema vivo, que exige escuta ativa, autenticidade nas decisões e liderança com visão de futuro. Não basta falar em capitalismo consciente se não estamos dispostos a redesenhar os modelos de poder.
É hora de as empresas substituírem as vitrines por espelhos. Em vez de buscar figuras femininas para ilustrar campanhas, é preciso olhar honestamente para dentro: quem está tomando as decisões? Quais caminhos reais existem para que mulheres cheguem e permaneçam no topo? O compromisso com a equidade começa na contratação, mas se concretiza na cultura, na escuta e nas oportunidades contínuas de desenvolvimento.
E aqui vale uma provocação: por que continuamos replicando um modelo masculino de liderança como único caminho de sucesso? Mulheres não precisam “se moldar” para ocupar cargos de decisão. Precisam ser reconhecidas por seus próprios estilos de liderança, muitos deles baseados na colaboração, no cuidado, na inteligência relacional. Estilos que, inclusive, respondem melhor aos desafios complexos do nosso tempo.
Para evoluirmos como sociedade, precisamos abandonar a lógica da exceção e abraçar a lógica do sistema. Isso significa olhar para cada política de RH, cada processo de avaliação, cada promoção que acontece (ou não) com uma lupa de equidade. Significa entender que sem mulheres na liderança, especialmente em áreas como finanças, tecnologia e operações, não existe ESG real. Existe um discurso vazio.
A transformação só virá quando deixarmos de separar as esferas: pessoal e profissional, impacto e resultado, social e corporativo. O mundo já não opera mais nesses compartimentos. E as empresas que desejam permanecer relevantes precisarão aprender a navegar com coragem nesse novo tempo.
Por Maria Carolina Rossi
Comunica PR (cargo), contato telefônico fornecido
Artigo de opinião