Clínica in Company: Estratégia Eficaz para Reduzir Custos com Saúde e Aumentar a Produtividade nas Empresas
Como o modelo de atenção primária no ambiente corporativo pode transformar a gestão da saúde dos colaboradores e gerar resultados financeiros positivos em poucos meses
Diante dos crescentes desafios para equilibrar os custos assistenciais e a saúde populacional dentro das empresas, o modelo de clínica in company desponta como uma das estratégias mais eficazes — e subutilizadas — do ecossistema corporativo. Em vez de tratar a saúde do colaborador como uma despesa isolada ou uma obrigação legal, esse formato propõe uma abordagem contínua, resolutiva e integrada, diretamente no ambiente de trabalho.
A contradição é evidente: enquanto as empresas enfrentam alta sinistralidade nos planos de saúde e perdas bilionárias com afastamentos evitáveis, apenas 10% adotam iniciativas estruturadas de atenção primária no ambiente corporativo — segundo levantamento da HealthBit com base em dados públicos da ANS e Ministério da Saúde. Isso demonstra o quanto o modelo ainda está aquém do seu potencial.
Muito além da saúde ocupacional
A maioria das organizações ainda limita suas ações à saúde ocupacional convencional, centrada em exames periódicos e exigências normativas. Esse modelo burocrático tem baixa resolutividade e ignora fatores determinantes como doenças crônicas, sofrimento psíquico e hábitos de vida.
Nesse cenário, a clínica in company se apresenta como um divisor de águas. Ela transforma o cuidado reativo em estratégia preventiva, utilizando dados populacionais, equipes multidisciplinares e protocolos personalizados para atuar nas reais necessidades da população atendida.
Esse modelo parte de uma análise detalhada: causas de absenteísmo, uso dos planos de saúde e fatores de risco mais prevalentes. A partir disso, define-se a composição da equipe e os serviços oferecidos. Por exemplo, alta incidência de dores musculoesqueléticas pode indicar a inclusão de fisioterapeutas; sobrepeso ou ansiedade, a presença de nutricionistas e psicólogos. A escolha é sempre orientada por evidências.
Outro diferencial está na acessibilidade. As clínicas são implantadas onde a presença física dos colaboradores é mais intensa — seja em fábricas, centros de distribuição ou escritórios — o que facilita o atendimento, reduz deslocamentos e aumenta o engajamento com o cuidado.
Investimento estratégico com impacto direto nos resultados
Com base em três pilares — qualidade assistencial, redução de custos e mitigação do absenteísmo — o modelo in company tem gerado impactos concretos: redução de afastamentos, melhora na qualidade de vida, alívio sobre os planos de saúde e ganho de produtividade.
Além de facilitar o acesso e promover educação em saúde, as clínicas contribuem para o diagnóstico precoce, melhoram a adesão aos tratamentos e atuam como centro de referência dentro da empresa. Ao evitar consultas externas e oferecer resolutividade no primeiro atendimento, ajudam a reduzir a perda de horas produtivas e a sobrecarga de equipes.
Também é possível mensurar o retorno: economia com exames e consultas externas evitadas, menos atestados, menor tempo fora do posto de trabalho e evolução clínica dos colaboradores. Um modelo bem estruturado, com pelo menos 12 atendimentos diários e ocupação acima de 80%, já tende a ser autossustentável — muitas vezes, até lucrativo.
Casos como os do iFood, Energisa e RD (RaiaDrogasil) comprovam na prática os benefícios do formato. Em média, observam-se ganhos financeiros já a partir do terceiro ou quarto mês de operação, com redução de sinistros, menor uso da rede credenciada e ocupação próxima a 100%. O iFood, por exemplo, já ultrapassou esse índice em sua operação.
Inovação tecnológica e desafios para o RH
A tecnologia é um pilar fundamental para o funcionamento das clínicas. Utilizamos sistemas de analytics e inteligência artificial para mapear padrões de uso, identificar riscos e acionar intervenções precoces. O uso de prontuários eletrônicos com transcrição automática agiliza os atendimentos e melhora a qualidade da escuta clínica.
Essas informações ficam centralizadas em uma base única, garantindo continuidade ao cuidado — inclusive em atendimentos externos ou programas complementares. Parcerias com farmácias e laboratórios ajudam a garantir descontos em medicamentos, rastreabilidade e adesão ao tratamento.
Ainda assim, o principal obstáculo para a adoção do modelo é a percepção de alto custo e retorno incerto. Cabe ao RH liderar esse diálogo e conectar saúde, desempenho e sustentabilidade financeira. Quando bem integrado à estratégia da empresa, o cuidado deixa de ser acessório e se torna diferencial competitivo.
Dito isso, podemos ver que cuidar da saúde do colaborador deixou de ser apenas uma responsabilidade ética — passou a ser uma decisão estratégica. E como toda decisão bem-sucedida, exige dados, método e constância. A clínica in company é uma das ferramentas mais eficazes para transformar esse cuidado em valor real para o negócio.
Por Dr. Eduardo Sellan Lopes Gonçales
diretor médico na HealthBit Serviços Médicos, presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da Fundação Centro Médico de Campinas, médico infectologista com mais de 23 anos de experiência no Hospital das Clínicas da Unicamp, ex-docente da disciplina de Atenção Primária à Saúde da Unicamp até 2023, experiência em gestão e liderança em projetos de controle de surtos infecciosos e pandemias
Artigo de opinião