O Poder do Afeto para Combater o Estresse nos Relacionamentos

Como cultivar afeto diário pode transformar a relação em um verdadeiro abrigo emocional diante da correria da vida moderna

Em um mundo que gira em alta velocidade, onde notificações nunca param, boletos se acumulam e a cabeça mal descansa, encontrar refúgio dentro da própria relação virou uma escolha corajosa e necessária, um gesto de preservação emocional. Mas, segundo a terapeuta familiar Aline Cantarelli, esse refúgio não acontece por acaso — ele é construído. “O afeto precisa ser um hábito. Quando o casal transforma a relação em um espaço seguro, o estresse do lado de fora pode até bater, mas não entra.”

A fala de Aline ecoa o que muitos casais sentem, mas não conseguem nomear: a diferença brutal entre viver ao lado de alguém e se sentir acolhido por esse alguém. “A rotina desgasta. Mas é justamente na rotina que o afeto precisa se infiltrar — nos pequenos gestos, nas pausas intencionais, na escuta verdadeira, no abraço antes de dormir.” Ela defende que, em vez de ver o estresse como um vilão que destrói a relação, o casal pode escolher enfrentá-lo como uma equipe. E essa escolha muda tudo.

Pesquisas reforçam a visão da especialista. Um estudo da Universidade Carnegie Mellon apontou que pessoas que se sentem amadas e apoiadas por seus parceiros têm níveis significativamente mais baixos de cortisol, o hormônio do estresse. Outro levantamento, da Universidade de Zurique, mostrou que casais que praticam “toque afetivo diário” — como segurar as mãos, abraçar ou deitar juntos — têm menos crises de ansiedade e maior sensação de bem-estar emocional.

A questão é que, no corre-corre, muitos casais passam a operar no “modo sobrevivência”. Dividem boletos, agenda de filhos, problemas da família — mas não dividem mais o coração. “O problema não é o estresse em si. É quando ele entra no quarto do casal e ninguém percebe”, alerta Aline. Segundo ela, é nesse ponto que o relacionamento deixa de ser uma âncora e passa a ser mais um fator de sobrecarga emocional.

“O afeto é o que transforma o caos em pausa”, afirma. “Quando você chega em casa e encontra um ambiente onde pode ser você mesmo, onde não precisa se defender o tempo todo, onde há cuidado real… o mundo lá fora pode estar desmoronando que você ainda se sente inteiro.”

Ela enfatiza que afeto não é mimo, nem romantismo barato. É escuta ativa, gentileza, presença, atenção verdadeira — coisas que não custam nada, mas exigem intenção. “Tem gente que espera o fim de semana, as férias, a data especial. Mas a relação se fortalece mesmo é na terça-feira à noite, depois de um dia difícil, quando um senta ao lado do outro e pergunta: ‘como você tá de verdade?’.”

No consultório, Aline vê casais exaustos, que ainda se amam, mas esquecem de se proteger mutuamente do peso da vida. “Quando o relacionamento vira campo de batalha ou posto de cobrança, ninguém relaxa. Mas quando vira um abrigo, o estresse perde força. O afeto não apaga os problemas — mas ensina a respirar dentro deles.”

A mensagem, segundo a terapeuta, é simples e urgente: quem cultiva afeto diariamente, rega a saúde emocional do casal — e constrói um tipo de fortaleza invisível que o estresse não consegue atravessar.

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Por Camila Augusto

Jornalista responsável (Mtb.: 43.056)

Artigo de opinião

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