Legados que Transformam: Repensando o Testamento como Ato de Solidariedade
Uma reflexão sobre finitude, legado e o poder de deixar uma contribuição duradoura para as futuras gerações
Falar sobre a morte ainda é tabu. Mas, e se, em vez de falar sobre a partida, falássemos sobre a continuidade? É com essa provocação que o UNICEF Brasil estreia a websérie Legados que Transformam. Essa produção inédita convida o público a refletir sobre testamento, finitude e, acima de tudo, sobre o poder de deixar um legado que ultrapasse o próprio ciclo de vida.
Ao longo da série, tive conversas profundas com especialistas, artistas e doadores que encontraram no Testamento Solidário uma forma de transformar a própria solidariedade em algo duradouro. Os episódios, lançados semanalmente no canal do UNICEF Brasil no YouTube, culminarão em um webinar gratuito para aprofundamento do tema.
Durante as gravações, repensei minha própria relação com o tempo e com a ideia de deixar um legado. Não como herança apenas, mas como contribuição para o mundo. Nas entrevistas, conheci pessoas que viveram intensamente, que relativizaram os valores, que pensam no futuro das crianças com uma maturidade rara. Essa experiência mudou a forma como vejo o planejamento da vida e da partida.
Um ponto recorrente nas conversas foi que, apesar de trajetórias diferentes, havia algo muito forte em comum entre eles: todos estão ativos, vivem com intensidade e acumulam uma bagagem de aprendizado, pois conheceram realidades diversas. Com a maturidade, essas pessoas passaram a relativizar as certezas; passaram a ter uma forte consciência social – ou seja, não pensam apenas no patrimônio que vão deixar para seus herdeiros, mas no impacto que podem causar no futuro das crianças, no futuro do Brasil. Gente que enxerga o testamento como um ato de responsabilidade, de autonomia e de solidariedade.
Outro aprendizado foi perceber que refletir sobre o legado nos motiva a viver com ainda mais propósito no presente. Essa ideia de continuidade me transformou. Falar sobre legado é assumir o protagonismo da própria história. É entender que a vida não precisa findar quando termina. Que a nossa marca pode seguir existindo de formas muito concretas, especialmente quando colocamos nossa solidariedade a serviço da humanidade.
Cada entrevista reforçou, inclusive, a necessidade de trazer esse tema para o debate público. É fato que sabemos pouco sobre essa temática e sobre como nos planejar para a finitude. Acredito que seja porque enxergamos o testamento como algo frio, burocrático e distante quando, na verdade, ele pode ser um gesto simples de amor. Um jeito de continuar cuidando dos nossos – mesmo depois que partimos.
Ao longo de quatro episódios, a websérie aborda temas como aposentadoria, envelhecimento, planejamento sucessório e herança, tudo sob a perspectiva do legado solidário. Participam nomes como a antropóloga Mirian Goldenberg; o presidente do Instituto de Longevidade Nilton Molina; a cantora Adriana Calcanhotto; e o vice-presidente do Colégio Notarial do Brasil, dr. Andrey Guimarães Duarte, além de doadores do UNICEF Brasil.
É importante salientar que o Testamento Solidário é uma ferramenta que permite que qualquer pessoa, independentemente do patrimônio, possa destinar parte de seus bens a causas sociais, como os projetos da organização com foco na infância. No Brasil, o instrumento existe formalmente há cerca de seis anos, mas ainda é pouco conhecido: apenas 15% da população possui seguro de vida, e a adesão ao testamento é ainda menor, mesmo entre as classes A e B.
Um dos destaques da série é a diversidade de perfis que compartilharam as motivações para doar. Há casais que escolheram incluir o UNICEF como beneficiário em seguros de vida, pessoas sem vínculos familiares próximos que decidiram transformar sua história em continuidade social. Trazemos depoimentos emocionantes sobre o impacto positivo desse ato em comunidades vulneráveis. Além de dados e esclarecimentos jurídicos, a websérie oferece um atendimento gratuito e personalizado para quem deseja incluir causas no seu planejamento sucessório.
Voltando ao início desta conversa, falar sobre legado não é falar de morte. É falar de presença. De protagonismo. De escolhas conscientes. Essa websérie mostra que existe uma forma bonita e ética de continuar cuidando das próximas gerações, mesmo depois que a nossa parte da caminhada termina.
Por Bete Marin
Cofundadora da MV Marketing, empreendedora na Economia Prateada desde 2015, especialista em planejamento estratégico, comunicação integrada e eventos, mais de 30 anos de experiência, graduada em Marketing, pós-graduada em Gerontologia (Instituto Albert Einstein) e Comunicação (ESPM), MBA em Marketing pela Fundação Getulio Vargas (FGV)
Artigo de opinião