Agosto Lilás: Os Impactos Emocionais Profundos da Violência Doméstica

Como a agressão fragmenta a identidade e autoestima das mulheres, gerando consequências psicológicas duradouras

Ainda que cicatrizadas fisicamente, a violência doméstica provoca feridas profundas e duradouras na saúde mental das mulheres. Segundo a psicóloga Dra. Andrea Beltran, especialista em psicologia analítica junguiana, a agressão “fragmenta a estrutura psíquica, gerando desorientação, medo e dissociação” e pode levar a quadros de ansiedade, depressão, insônia, fobias e sensação de vazio.

A fala da especialista encontra eco em dados recentes que confirmam a dimensão do problema no Brasil. De acordo com levantamento do Datafolha em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 21,4 milhões de brasileiras — cerca de um terço da população feminina adulta — sofreram algum tipo de violência no último ano, seja física, psicológica ou sexual. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) também aponta que, apenas em 2024, foram registrados 966.785 novos casos de violência doméstica, com mais de 1,29 milhão de processos ainda pendentes de julgamento. No mesmo período, 10.991 processos de feminicídio foram julgados, número 225% maior do que o registrado em 2020. Outro dado alarmante, divulgado pela Agência Brasil, mostra que 91,8% das agressões contra mulheres nos últimos 12 meses foram presenciadas por terceiros.

Para a Dra. Andrea, mesmo quando não há agressão física, o impacto psicológico pode ser devastador. “A violência distorce o espelho no qual a mulher se vê refletida. Ela começa a acreditar nas projeções negativas lançadas sobre ela — ‘não sou suficiente’, ‘não tenho valor’, ‘ninguém vai me amar’”, afirma.

A psicóloga explica que sentimentos de culpa e vergonha, comuns entre vítimas, estão enraizados em padrões culturais e emocionais antigos. “São conteúdos arquetípicos profundamente enraizados no inconsciente coletivo, muitas vezes reforçados por experiências de humilhação, abandono ou desamparo na infância”, analisa.

A recuperação envolve resgatar imagens internas positivas e restaurar a autoestima. “Nem toda vítima buscará terapia de imediato, e isso deve ser respeitado. Mas a psicoterapia é um espaço simbólico onde o trauma pode ser ressignificado e a mulher pode reconectar-se com sua essência”, destaca.

Sinais de superação, segundo a psicóloga, incluem retomada de interesses pessoais, reconexão com o corpo e intuição, clareza nos próprios desejos e limites, abertura para vínculos saudáveis, espontaneidade e o retorno do riso.

Para evitar recaídas emocionais, a especialista orienta fortalecer o eixo ego-Self, reconhecer e integrar padrões inconscientes, tornando as decisões mais conscientes e menos impulsivas. “O vínculo terapêutico, quando bem estabelecido, é um espaço seguro de reflexão e proteção.”

Neste Agosto Lilás, que reforça a luta contra a violência doméstica, a Dra. Andrea destaca a importância do acolhimento, da escuta e das políticas públicas para a reconstrução da vida dessas mulheres. “Não basta punir. É preciso reconstruir. A violência doméstica é um problema coletivo que exige enfrentamento contínuo e redes de apoio fortalecidas”, conclui.

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Por Andrea Beltran

psicóloga, especialista em psicologia analítica junguiana

Artigo de opinião

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