Machismo estrutural: o impacto oculto na cultura brasileira e o desafio para as lideranças empresariais

Como o machismo enraizado afeta o ambiente corporativo e o que líderes podem fazer para promover uma transformação real

Falar sobre machismo estrutural não é confortável. Mas é necessário porque ele está presente no nosso dia a dia nas empresas, nas famílias, nas ruas, nos conselhos, nas conversas de corredor, nos grupos de liderança. E o mais desafiador é que ele não escolhe classe social, cargo, nem nível intelectual. O machismo está infiltrado nas camadas mais profundas da nossa cultura e opera de forma silenciosa, muitas vezes disfarçada de piada, de “jeito direto de liderar”, de “perfil técnico”, ou simplesmente de “forma de falar”.

Ouço muitos relatos de mulheres com carreiras brilhantes, em cargos de comando, sendo constantemente interrompidas, desacreditadas, silenciadas, às vezes por outros homens, às vezes por outras mulheres. Sim, nós também somos educadas em uma cultura machista. E, muitas vezes, sem percebermos, reproduzimos falas, julgamentos e comportamentos que reforçam esse padrão. Isso não nos torna culpadas, mas nos torna responsáveis pelo que escolhemos carregar adiante.

Já estive em reuniões estratégicas onde presenciei o comportamento agressivo de um homem contra uma mulher, como se o simples fato de ele ser homem lhe desse o direito de ser hostil, grosseiro e prepotente. E confesso que eu também já passei por isso e continuo passando, mesmo sendo CEO, mesmo liderando uma empresa reconhecida no setor industrial, mesmo ocupando conselhos. Porque até na alta liderança isso acontece. Isso diz muito sobre o quanto ainda precisamos avançar.

É inquietante perceber que, enquanto sociedade, só nos escandalizamos quando a violência contra a mulher chega ao limite da agressão física. Quando há sangue e a tragédia já aconteceu. Mas e a violência psicológica, verbal, comportamental, que se instala nos lares, nos escritórios e nas conversas cotidianas? E as mulheres que são desacreditadas, ridicularizadas, desvalorizadas dentro de casa, por pais, filhos, tios, maridos e que ainda são pressionadas a não expor, a se calar, a “não causar problema”?

Tenho visto, sim, uma mudança de consciência. Nossa geração tem levantado a bandeira e dado a cara a tapa. O que nossas mães e avós, por medo ou por cultura, naturalizaram, hoje questionamos. Estamos começando a enxergar que muitos comportamentos que antes pareciam banais ou “normais” são, na verdade, formas de opressão. Mas isso exige coragem. Exige um olhar mais sensível e crítico. Sobre nós mesmos. Sobre as pessoas que nos cercam. Sobre as estruturas que insistem em se manter.

Dirijo-me especialmente aos líderes, CEOs, empresários e conselheiros! É hora de pararmos de varrer essas questões para debaixo do tapete. A cultura empresarial, as dinâmicas de poder, as formas de liderança precisam passar por uma transformação real. Não basta dizer que apoiamos a equidade. É preciso agir, educar e nos reeducar.

Precisamos de mais mulheres em espaços de poder, mas também precisamos de homens dispostos a abrir espaço, ouvir, rever posturas e reconhecer privilégios. O machismo estrutural não é um problema das mulheres. É um problema da sociedade. E enquanto não for enfrentado com a seriedade e a urgência que merece, continuará silenciando talentos, destruindo trajetórias e contaminando o futuro que queremos construir.

Se você lidera uma empresa, forme suas lideranças para identificar e não reproduzir o machismo. Se você é homem, ouça mais, observe mais e reflita. Se você é mulher, saiba que não está sozinha. Precisamos manter essa conversa viva e mais do que isso, transformá-la em ação.

“Chega de normalizar o que nos adoece. É hora de transformar o que nos cerca.”

G

Por Giordania R. Tavares

Graduada em administração pela UNICID, com especialização pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; CEO com mais de 20 anos de experiência no setor industrial; conselheira da Fispal Tecnologia; atua em temas como gestão, sucessão em empresas familiares, inovação e ambientes corporativos mais inclusivos.

Artigo de opinião

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