Por que você engorda mesmo sem comer demais: o desequilíbrio metabólico como raiz do ganho de peso
Entenda como hábitos, estresse e inflamação silenciosa sabotam o emagrecimento e como a medicina integrativa pode reprogramar seu metabolismo
Dormir mal, viver sob constante estresse, pular refeições ou comer com pressa são hábitos que, mesmo diante de uma alimentação aparentemente equilibrada, podem desorganizar completamente o metabolismo.
Na visão da medicina integrativa, esses comportamentos disparam processos silenciosos, como resistência à insulina e inflamação crônica, que favorecem o acúmulo de gordura, especialmente na região abdominal, muitas vezes sem que exames tradicionais revelem qualquer anormalidade.
É comum encontrar pacientes que já passaram por diferentes médicos e convivem com sintomas persistentes como dores, insônia, ansiedade, baixa energia ou um cansaço que não passa. Nessas situações, o que falta muitas vezes não é tratamento, mas um olhar mais profundo, integral e humano.
Esse é exatamente o propósito da medicina integrativa: cuidar da pessoa como um todo, e não apenas de uma doença específica. Isso significa investigar hábitos, emoções, qualidade do sono, alimentação, relações, estilo de vida e até marcadores inflamatórios ocultos, que costumam ser ignorados em abordagens convencionais.
O ganho de peso raramente está ligado apenas ao que se come e quase sempre está associado a desequilíbrios internos que precisam ser diagnosticados e corrigidos com precisão científica.
Muitas pessoas se culpam achando que não têm disciplina, mas o problema não está na força de vontade. O corpo delas está preso em um ciclo de desequilíbrio. E é esse ciclo que precisa ser quebrado com estratégia, escuta e mudança real de estilo de vida.
A medicina integrativa nasceu nos Estados Unidos na década de 1970 e vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil por oferecer uma abordagem ampla e eficaz da saúde. Ela une o melhor da medicina convencional com práticas milenares e terapias complementares, como alimentação funcional, fitoterapia, suplementação, atividade física, acupuntura e terapias emocionais.
Com frequência, o paciente chega com dores ou mal-estar sem um diagnóstico claro. A medicina tradicional, quando não encontra a causa, classifica como “essencial”. A medicina integrativa faz o oposto: investiga a fundo e busca tratar a origem do problema.
Na medicina integrativa, o foco não está apenas no sintoma isolado, mas no paciente em sua totalidade. Por isso, as consultas são mais longas e detalhadas. A primeira visita pode durar até duas horas e meia, tempo dedicado à escuta ativa, análise minuciosa de exames laboratoriais e construção de um plano de cuidado totalmente personalizado.
Não é possível conhecer de verdade um paciente em 15 minutos. Muitas vezes, ele chega com dores crônicas, cansaço ou irritabilidade que não se encaixam em diagnósticos tradicionais. Só com tempo, escuta profunda e investigação conseguimos compreender o que está por trás desses sinais.
Na medicina integrativa, um dos principais focos é identificar e tratar a inflamação crônica subclínica, um processo inflamatório silencioso, sem dor, febre ou sinais evidentes, mas que desgasta o organismo de forma progressiva. Essa condição está associada ao surgimento de doenças como obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, Alzheimer, problemas cardiovasculares e até câncer.
Essa inflamação vai corroendo o organismo por dentro, e muitas vezes só é descoberta quando a doença já está instalada. Por isso, o foco tem que ser na prevenção, não apenas no tratamento.
O desafio é que, mesmo com exames laboratoriais aparentemente normais, muitos pacientes não conseguem emagrecer ou apresentam sintomas persistentes como fadiga, insônia e irritabilidade. Isso ocorre porque estão presos em um ciclo de desequilíbrio metabólico que envolve mais do que alimentação — exige olhar integral e diagnóstico preciso.
Quatro fatores principais costumam estar por trás desse “ganho de peso silencioso”:
– Resistência à insulina, que faz o corpo armazenar glicose em forma de gordura, mesmo comendo pouco;
– Desregulação hormonal, com cortisol elevado, baixa produção de melatonina ou alterações na tireoide, que afetam diretamente o metabolismo;
– Privação de sono, que aumenta em até 55% o risco de obesidade, segundo estudos científicos, independentemente do consumo calórico;
– Inflamação crônica, que atua de forma silenciosa, dificultando a queima de gordura e contribuindo para doenças sistêmicas.
Esses fatores muitas vezes não são detectados em exames convencionais e acabam sendo tratados apenas com medicamentos ou dietas restritivas, que oferecem alívio temporário, mas não resolvem a raiz do problema. O caminho real passa por reprogramar o metabolismo com mudanças no sono, no controle do estresse, na alimentação e no estilo de vida como um todo.
A medicina integrativa combina avaliações clínicas e laboratoriais avançadas com terapias complementares, como fitoterapia, acupuntura, detox metabólico, respiração consciente, nutrição funcional, técnicas de modulação intestinal e reeducação alimentar emocional.
Não sou alopata, nem homeopata. Sou prático. O que funciona, eu uso. O que importa é devolver saúde real ao paciente.
Essa abordagem, cada vez mais reconhecida por centros médicos internacionais, vem ganhando espaço no Brasil principalmente entre pessoas que já passaram por inúmeros tratamentos convencionais sem resultados consistentes. O famoso “desembrulhar menos e descascar mais” é um dos princípios básicos.
A medicina integrativa promove a autonomia e reforça que o verdadeiro responsável pela saúde é o próprio paciente. O médico não atua como um solucionador externo, mas como um guia que orienta, investiga, conecta pontos e oferece estratégias personalizadas.
Meu papel é orientar, investigar, conectar pontos e oferecer estratégias. Mas o paciente precisa estar disposto a sair do piloto automático e se responsabilizar pelos seus hábitos e decisões diárias.
Essa mudança exige dedicação, paciência e consciência. Não se trata de seguir receitas prontas, mas de assumir um compromisso genuíno com a transformação física, mental, emocional e até espiritual.
Cuidar do corpo é mais do que bem-estar. É um ato de adoração a Deus. Saúde é também um exercício de consciência, propósito e reverência ao Criador.
Mais do que tratar doenças, a missão é transformar consciências e construir, com base em ciência, escuta e espiritualidade, um novo paradigma de saúde.
Por Adriano Faustino
Médico nutrólogo, referência nacional em medicina integrativa, especialista em Nutrição Funcional, Fisiologia Hormonal e Geriatria
Artigo de opinião