Como conciliar o trabalho dos pais com a rotina escolar para fortalecer vínculos afetivos
A qualidade da presença emocional é fundamental para o desenvolvimento saudável das crianças, mesmo diante das demandas profissionais dos pais
Com o retorno das aulas e a retomada das rotinas profissionais mais intensas, muitos pais enfrentam o desafio de conciliar a jornada de trabalho com a atenção emocional que os filhos necessitam.
A presença física dentro de casa nem sempre é sinônimo de conexão verdadeira. Segundo Marcela Jardim, educadora física, sexóloga, educadora sexual, psicanalista e professora de filosofia, a ausência emocional tem sido uma queixa silenciosa de muitas crianças que convivem diariamente com os pais, mas sentem-se sozinhas. “Nem toda ausência é física. A ausência emocional acontece quando o adulto está presente no corpo, mas não se conecta verdadeiramente com o que a criança sente”, afirma.
Entre os sinais mais comuns desse tipo de ausência, Marcela destaca:
– Comportamentos regressivos: como fazer xixi na cama ou chupar o dedo novamente;
– Irritabilidade sem motivo aparente;
– Isolamento social;
– Dores físicas frequentes: como dores de barriga ou cabeça sem explicação médica;
– Queda de desempenho escolar;
– Busca intensa por atenção.
De acordo com ela, esses comportamentos são, muitas vezes, tentativas da criança de expressar que algo emocionalmente importante está faltando.
Mas mesmo com pouco tempo disponível, é possível suprir essa ausência com ações simples e potentes. “Não é a quantidade de tempo que transforma uma relação, é a qualidade da presença”, explica. Conversas com escuta ativa, brincadeiras guiadas pela criança e pequenos rituais diários, como um beijo antes de dormir, um bilhete carinhoso na lancheira ou uma conversa no fim do dia, são ferramentas eficazes para fortalecer o vínculo afetivo.
Marcela sugere, por exemplo, trocar a pergunta automática “como foi a escola?” por “o que te fez sorrir hoje?” ou “teve algo difícil?”. Brincar de massinha, pintar juntos ou até cozinhar em dupla podem ser experiências de conexão emocional. “Quando a criança sente que é ouvida com atenção real, isso cria pertencimento, segurança e autoestima”, completa.
Em contextos em que os filhos são cuidados por terceiros, seja por avós, cuidadores ou em escolas de período integral, garantir uma presença afetiva consistente continua sendo fundamental. A dica da especialista é manter pequenos rituais de conexão e incluir esses cuidadores em uma rede alinhada com os valores da família. “Avós, educadores e babás precisam compartilhar uma linguagem afetiva comum. Isso ajuda a criança a se sentir compreendida e segura, mesmo que os adultos mudem ao longo do dia”, diz.
A comunicação clara com os cuidadores e a escuta ativa ao fim do dia também são essenciais. “Pergunte com curiosidade real: ‘o que você mais gostou de fazer hoje?’, ‘teve algo que te incomodou?’. Esses momentos fortalecem a presença emocional mesmo que o tempo juntos seja curto”, orienta Marcela. Além disso, validar sentimentos como saudade, ciúmes ou frustração ensina a criança que suas emoções são bem-vindas e que ela pode contar com os adultos.
A especialista ressalta ainda o papel essencial da escola como aliada na construção de um ambiente emocionalmente saudável para a criança. Para ela, a instituição deve ir além do ensino formal e se envolver ativamente no apoio à saúde emocional dos alunos. “A escola deve ser uma parceira ativa no fortalecimento do vínculo familiar. Isso acontece quando há comunicação aberta com os pais, espaço de escuta para as crianças, atividades que envolvem a família e educação socioemocional presente no dia a dia escolar”, defende.
Essa parceria entre escola e família favorece o desenvolvimento acadêmico, emocional e social da criança, contribuindo para uma formação mais sólida e afetiva. “Quando a criança sente que está cercada por adultos que se importam com ela de verdade, em casa e na escola, ela se desenvolve com mais segurança e saúde emocional”, conclui.
Por Marcela Jardim
educadora física, sexóloga, educadora sexual, psicanalista e professora de filosofia
Artigo de opinião