Os Vilões Ocultos do Câncer de Pulmão: Além do Tabagismo

Como poluição, exposição ocupacional e cigarros eletrônicos ampliam os riscos e exigem uma abordagem mais ampla na prevenção

Quando falamos em câncer de pulmão, o cigarro sempre aparece como protagonista – e com toda a razão. Celebrado em 1º de agosto, o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Pulmão nos lembra que o tabagismo é um dos principais fatores de risco para a doença. Segundo dados do INCA, cerca de 85% dos casos estão relacionados ao consumo de tabaco. A taxa de sobrevida em cinco anos, no entanto, ainda é preocupantemente baixa: apenas 18%, principalmente devido ao diagnóstico tardio, já que só 16% dos casos são detectados em estágio inicial, quando a chance de cura chega a 56%.

Mas acredito que focar apenas no cigarro é ignorar outras ameaças que silenciosamente aumentam o risco de câncer de pulmão. O uso de cigarros eletrônicos e vapes tem crescido rapidamente, mesmo sem evidências sólidas de que sejam mais seguros que o cigarro tradicional. Entre 2019 e 2020, um surto de EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos) nos Estados Unidos levou a milhares de internações e 68 mortes, o que reforça a necessidade urgente de cautela. Ainda que não exista comprovação de que essa lesão cause câncer de pulmão, esses dispositivos expõem nossos pulmões a substâncias tóxicas que podem causar inflamações e danos.

Além disso, um fator que costuma ser deixado de lado é a exposição prolongada a substâncias presentes no ambiente e no trabalho, como amianto, sílica, gases industriais e fumaça da queima de carvão, especialmente em locais com pouca ventilação. Esses agentes tornam muitos trabalhadores mais vulneráveis à doença.

É importante lembrar que entre 10% e 20% dos casos de câncer de pulmão ocorrem em pessoas que nunca fumaram. Além do tabagismo passivo, fatores como poluição do ar, radônio, exposição ocupacional e predisposição genética têm papel fundamental no desenvolvimento da doença. Muitas vezes, essas ameaças são imperceptíveis no dia a dia, mas podem causar alterações pulmonares progressivas. A inalação contínua de partículas finas e substâncias tóxicas, sobretudo em ambientes fechados e mal ventilados, está ligada não só ao câncer de pulmão, mas também a outras doenças respiratórias graves.

Embora nem todos esses agentes sejam oficialmente classificados como cancerígenos, a comunidade científica está em alerta e exige políticas públicas mais rigorosas para proteger a população.

Por isso, defendo que a luta contra o câncer de pulmão não pode se limitar apenas à redução do tabagismo, por mais essencial que esta medida seja. Precisamos avançar em estratégias amplas que incluam a regulamentação rigorosa do uso de novos produtos à base de nicotina, a fiscalização dos ambientes ocupacionais, a promoção da educação em saúde e o acesso facilitado a exames de rastreamento para grupos de risco.

Se respiramos o ar que influencia diretamente nossa saúde, cuidar da sua qualidade deve ser uma prioridade urgente, coletiva e contínua. Somente assim poderemos enfrentar de fato os verdadeiros vilões ocultos do câncer de pulmão.

V

Por Vaniele Silva Pinto Pailczuk

enfermeira, especialista em UTI/ Urgência e Emergência, professora e tutora de cursos de pós-graduação na área da saúde no Centro Universitário Internacional Uninter

Artigo de opinião

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