O câncer e a finitude: o impacto da perda pública em pacientes e familiares
Como a exposição da dor nas redes sociais afeta emocionalmente quem enfrenta o câncer e seus entes queridos
O câncer é uma doença que, além de seu impacto físico, traz consigo uma profunda dimensão emocional e existencial, especialmente quando confrontamos a finitude da vida. Nos últimos anos, com a popularização das redes sociais, tornou-se comum que pacientes e familiares compartilhem publicamente suas experiências, dores e perdas relacionadas à doença. Essa exposição, embora possa gerar apoio e solidariedade, também traz desafios significativos para quem vive essa realidade.
A dor da perda pública é uma experiência complexa. Quando a luta contra o câncer é tornada pública, o sofrimento não se restringe ao ambiente íntimo da família, mas se expande para uma audiência ampla, muitas vezes desconhecida. Isso pode intensificar o sentimento de vulnerabilidade e expor os pacientes e seus entes queridos a julgamentos, comentários inadequados e até mesmo a uma pressão para manter uma imagem de força e esperança constante.
Além disso, a exposição pública da doença pode interferir no processo natural de luto e na vivência da finitude. O luto, que é um momento profundamente pessoal e subjetivo, pode ser desafiado pela necessidade de responder a expectativas externas e pela constante reiteração da perda em ambientes virtuais. Essa dinâmica pode dificultar a elaboração do sofrimento e a reconstrução emocional após a perda.
É fundamental reconhecer que, apesar dos benefícios das redes sociais como ferramenta de apoio e informação, é necessário um equilíbrio para preservar a saúde mental e emocional dos envolvidos. Profissionais de saúde, familiares e pacientes devem estar atentos a esses aspectos e buscar formas de acolhimento que respeitem a intimidade e o tempo de cada um para lidar com a doença e a morte.
Por fim, a reflexão sobre a finitude diante do câncer nos convida a valorizar a vida em sua plenitude, a reconhecer a importância do cuidado integral e a cultivar a empatia, tanto no ambiente clínico quanto na esfera pública. O respeito à dor individual e coletiva é essencial para que possamos enfrentar, com humanidade, os desafios impostos pela doença e pela perda.
Por Dr. Bruno Roberto Braga Azevedo
Cirurgião oncológico, CRM-PR: 20472, RQE: 1012; Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR); residência médica em Cirurgia Geral no Hospital Angelina Caron; especialização em Cirurgia Oncológica pelo Hospital de Câncer de Barretos; especialista em cirurgias complexas do abdome, trato digestivo, ginecológicas e peritoniais; coordenador do Serviço de Cirurgia Oncológica do Hospital São Vicente – Curitiba/PR; ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica – Capítulo Paraná (2019–2022) e atual membro da diretoria nacional; autor de capítulos de livros e artigos científicos na área; atua com foco em técnicas minimamente invasivas e cirurgia robótica; integra corpo clínico da Eco Oncologia.
Artigo de opinião